CONTANDO UM CAUSO
Joaquim do Carmo Oliveira Vilela!
Professor,
Poeta,
Compositor,
Seresteiro,
Secretário da prefeitura várias vezes,
Autor do Hino de Carlópolis,
Sabia conta piadas e causos como poucos!
Negro culto, de educação refinada, elegante, que adorava um terno de linho branco, muito querido por tratar a todos com extrema cortezia.
Tocava acordeon e participou de um dos filmes do Grante Otelo como músico.
Era um homem persuasivo.
Como meu professor me emprestou a Enciclopédia Trópicos e me convenceu a ler seus dez volumes.
Eu adorava ouvir suas histórias!
Um dia ouvi dele este causo:
Disse que um candidato a deputado viajava em campanha pelo interior do Paraná e como era fraco de oratória, se valia de um Negão (palavras dele) que era o mestre do discurso.
Cada cidade um comício!
Entretanto, a coisa não ia nada bem!
Era uma época de muito racismo e nas cidades que haviam passado, sempre havia um bêbado na platéia pra insultar o orador e fazê-lo perder a cabeça.
Por isso, certa noite decidiram que quem faria o discurso seria o candidato.
Foi aquela derrubada!
O homem era ruim demais!
Tinha tudo pro povo ir embora antes do final do comício.
Então o Negão (palavras dele) se impacientou e assumiu o microfone!
Dois minutos depois o povo foi ao delírio!
O homem era mesmo o máximo!
Mas parecia praga, logo apareceu um bêbado e chegando perto do palanque, gritou:
___Desce daí, neeegrooo!!!
Fez-se um silêncio sepulcral, porém o orador sem perder a pose, deu o troco:
___Negro?! Negros são os olhos de Nossa Senhora, Padroeira do nosso Paíííssss!!!...
O povo explodiu em aplausos e o bêbado, irritado, ficou ali pensando em como se vingar da humilhação.
O discurso foi pegando fogo!
Mas o infeliz do bebum atacou de novo:
___Preeeeeeetoo!!!...
Novo silêncio!
E o Negão (segundo ele):
___Preeetoo?...Preto é o petróleo que jorra das profundezas da nossa terra e ajuda a constuir nossas riquezas!... Preto é o Rei Pelé que projeta nosso Pais perante o mundo!!!...
O povo arrebentou em aplausos e o cachaceiro se irritou mais ainda.
Finalmente o danado conseguiu o que queria:
___Cala a boca, macacoooo!!!
Foi o fim!
Todo mundo quieto e o Negão...
___Macaco?...macaco?...macaco?...
...Macaco a puta que te pariiiiiu!!!...
Dito isso, voou no pescoço do bêbado e mais uma vez o comício terminou em pancadaria.