FELIZ PACIÊNCIA VELHA, DOUTOR!

Quase reveillon, então, resolvi dar boas festas ao doutor João, aquele profissional que já lhes apresentei aqui no recanto.

Durante o ano todo contei muitas histórias dele, sobre sua sina lá naquele bairro sofrido, e particularmente hoje resolvi lhe dar um abraço de fim de ano posto que imaginei seu ambiente de trabalho mais tranquilo.

O quê? O pobre coitado logo cedinho já estava lá com uma fila que dobrava a calçada. Mais de vinte logo na primeira horinha da manhã...

Final de ano...todos querem a saúde inteira, mesmo que o doutor João esteja aos pedaços...

Que importa isso? Juramento é juramento, e sinto que aquele doutor João teria se dado melhor nessa vida caso tivesse optado pela clausura dum seminário...

Bem mais fácil cumprir sacerdórcio na calmaria dos templos, sob os bons olhos de Deus.

Todavia, mesmo assim, resolvi esperar o doutor respirar para lhe desejar boas festas, quando lá pras tantas ouvi a seguinte explanação do doutor com os medicamentos sobre a sua mesa:

-Então, vamos lá, é assim senhor Jorge, preste atenção, ok?, vou lhe repetir: este remédio logo pela manhã, junto com este da pressão alta, estes dois maiores após o almoço e o jantar, estes daqui, ok?, a aspirina uma vez ao dia, após o almoço, que é para não agredir seu estômago, a insulina às dez da noite, é melhor assim no seu caso, e por favor, pare de fumar, é o mais importante de tudo, entendeu?

-Entendi sim, doutor, claro que vou parar de fumar, mas, e como tomo os remédios?- o senhor nunca me explica direito...

E eu ainda percebi que o otimista doutor ficou feliz com a promessa do seu Jorge. Foi por isso que lhe dei um abraço bem forte.

-Feliz paciência velha, doutor!