Papai-Noel para sempre
O filho estava em Punta del Este. O velho havia ligado para o Hotel Fasano e avisado: este ano se vestiria de Papai-Noel.
O governo Lula havia terminado e cogitou para o velho um retiro na Barra da Tijuca. Pela primeira vez o velho havia desistido das férias em Guarujá. O filho de seu Nicolau notou qualquer coisa estranha na voz do pai. Homem calejado pelo trabalho exaustivo e discreto no ramo dos caça-níqueis. Que razões teria para se ocultar dentro da roupa de Papai-Noel? Se os filhos estavam crescidos e nem sequer haviam netos para alimentar a fantasia do velho?
A mulher estava inconsolável com essa determinação ficcional. O que fazer com um marido vestido de Noel na ceia onde os amigos convidados também eram ricos e sem filhos? Criaturas amantes de iates, lanchas, art déco e muito dinheiro. A gorda Jandira, esposa do banqueiro sentava perto do peru fazendo rir até as lágrimas. Contava detalhes de como perdeu a virgindade em Miami Beach com um faquir.
Ninguém haveria de aturar o velho Nicolau vestido de Noel em plena ceia. Dona Matilde havia preparado quatro perus sendo que, dentro de apenas um, esta escondido um rolex. Idéia luminosa que chamou de “peru da sorte” e, se Nicolau se vestisse de bom belhinho, o rolex deveria estar dentro do saco; jamais no útero de uma ave assada. Estava afogada na inquietação.
Advertiu o marido. Se continuasse com essa idéia ela pegaria o jatinho e se mandaria para o Hamptons, balneário chique de Nova York. Sozinha e disposta a tudo e sem contraceptivos.
Sendo assim Nicolau tomou uma decisão particular entre uma dose e outra de scoth. Nunca mais deixaria de se vestir com a roupa criada pelo cartunista alemão Thomas Nast. Roupa nas cores vermelha e branca, com cinto preto e a sapiência das barbas longas e brancas. Viveria até o final da vida ao estilo Polo Norte. Morreria vestido de Papai-Noel. Viveria honestamente como antes, enchendo o próprio saco, mas desta vez sem ninguém para comprometer...
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