Dispensa do trabalho

Pois é, chegou o grande dia. Véspera de Natal. Este ano, sexta feira, o patrão, bonzinho dispensou a turma ao meio-dia, todo mundo se cumprimenta, dá um sorrisinho amarelo, deseja boas-festas até pro cachorro do porteiro(é um animalzinho vira-latas que adotou a portaria e divide a marmita com o Zé, o porteiro). Quem é peão, vai no busão da empresa, alguns vão de transporte público mesmo, outros, igual a voce, pegam o caminho do buteco da esquina prá tomar a saideira e depois pegam seus carros e vão colaborar com os engarrafamentos da cidade. Duas horas depois, estes últimos, assim como voce, chegam em casa. A mulher, via de regra ainda não chegou pois tinha um amigo secreto(oculto) no escritório, vai demorar por causa do trânsito também, as crianças tão no video game ou na TV, a sogra que toma conta reclama que eles não quiseram comer, que não aguenta mais eles em casa (já estão de férias escolares há quatro dias), a empregada disse que não pode ficar até as seis porque ainda tem de ir na 25 Street pegar uns dvds piratas do Restart e do Justin Bibar (ô pronúncia), e amanhã não virá porque o Beição tá de indulto e quer tirar o atraso. A mulher chega, descabelada, reclama que as pessoas deixam tudo prá última hora, ficam estressadas, xingam, fecham cruzamentos, expôem dedos médios pela janela, buzinam feito loucas, senta no sofá e anuncia que TEMOS que ir ao shopping fazer umas comprinhas, prá poder descer prá praia antes do sol nascer (como todo mundo programou). Tenta ligar para um restaurante ou pizzaria prá não ter de ficar na cozinha, nem ficar lavando louça de madrugada. Obviamente não há mais como fazer reservas. Descarrega em você, inútil, imprestável que não cuidou disso a tempo. Recebe uma ligação de celular da irmã solteira avisando que vai levar o namorado, um zé mané desempregado, abusado, tôsco, que não sabe beber, não sabe jogar, mas como é de graça bebe feito um gambá, joga e perde o dinheiro que pediu emprestado prá você e ainda faz graça com qualquer mulher que passe na frente. Na hora de sair pro shopping, um Testemunha de Jeová te pega no portão e vem falar sôbre um menino que nasceu la do outro lado do mundo, há muito, muito tempo, pobre, sem bolsa familia, sem apoio do unicef, sem apoio de ong nenhuma, e que ele garante, mudou o mundo. Cê acha que dar pra para e ter saco prá acreditar numa coisa dessas. O carro cheio, o mais velho reclamando que perdeu a fase no PS3. A sogra resmungando, o pincher latindo na janela, a avenida lá longe parada, nos dois sentidos. Dá vontade de xingar o patrão pela dispensa. Se pudesse voce estaria voltando prá firma agora................ (ou não?)

neanderthal
Enviado por neanderthal em 24/12/2010
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