'' ....historias de Cemiterios ''


      Cravo Craveiro era coveiro , odiava cravo de defunto, qualquer cravo ele odiava, lembrava seu nome que ele detestava, gostava de seu sobrenome mas de seu nome...credo!!! e ai daquele que o chamasse de Cravo, partia pra cima fosse  mulher, homem e ate' criança...que horror!! e nunca, mas nunca mesmo dizia seu nome....Cravo
 
      Dizia que era Carlos, que seu pai ao ir registra-lo estava meio alto, e balançando e gingando e trocando pernas com bocas moles e lingua solta ao inve's de Carlos tinha dito babando ao homem do cartorio ...e' menino põe ai o nome Cavro, Cravo...queria, tentava, fazia esforço para dizer Carlos, não saia e o homem do cartorio colocou e ficou Cravo Craveiro, e assim Cravo cresceu, sendo Cravo em lugar de Carlos Craveiro...coitado!!

      E Cravo Craveiro não gostava da escola e nem a escola gostava dele, ele fugia dela, ela zombava dele, a molecada safada fazia troça do nome e ele foi um dia, no segundo não voltou, a mãe o ensinava em casa, pouco aprendeu, vivia na rua, jogando peladas e pulando muro do cemiterio para pegar gabirobas e foi ai que tudo começou, sentiu que gostava do cemiterio e resolveu:- vou ser coveiro e foi mesmo. E era o melhor coveiro que a cidade ja` tinha tido.

      Tinha do' dos mortos, dos defuntos frescos, abria covas que nem abrir barra de manteiga, facil , facil, cuidava de tudo no cemiterio, era o primeiro a chegar, abria os portões, fazia cafe' no escritorio para o administrador, limpava escritorios, banheiros e tudo o mais, varria o cemiterio de ponta a ponta, cuidava dos tumulos, limpava, regava, podava e a coisa que mais gostava era '' enterrar'' gente morta e não adiantava o adminstrador ensinar...enterrar, sepultar corpos, cadaveres, pessoas...e claro que so' podia ser '' gente morta'', veja Cravo Craveiro, ninguem enterra gente '' viva''...não adiantava, ele vivia dizendo que gostava de enterrar gente '' morta'

      E vivia então enterrando gente morta no pequeno  cemiterio da pequena cidade em que morava e era feliz, mas, mas todos. que eram vivos, e não eram bobos nem nada, notavam que naquele cemiterio nunca,mas nunca mesmo tinha cravos de defuntos e muito menos qualquer cravo encravado por la', colocar colocavam, vasos lindos de cravos de defuntos eram colocados por la'...sumiam logo, logo, plantavam cravos vermelhos, branco, rosa....não cresciam, não vingavam...ele arrancava e fora jogava...odiava!!!

       E era ele ou os cravos. Ficou ele, Cravo Craveiro o coveiro. Trabalhou mais de 30 anos por la' e ninguem mais levava cravos de defuntos e muito menos qualquer cravo...ele ria, feliz, tinha acabado com a historia de cravos encravados no cemiterio que ele, depois de tanto tempo, achava que era dele..era fanatico pelo cemiterio, uma grama pisada, uma flor arrancada, um papel de bala jogado no chão e ele virava uma fera...uma besta mesmo!!!!

        E ele era gente viva. E o seu dia de gente morta chegou. E quem o enterrou foi Sepulcrario Kimão que realmente tinha uma mão que so' vendo , mãoboa...mãoZona mesmo, manoplona de primeira, e com dez pazadas acabou de enterrar Cravo Craveiro o que era coveiro, o que foi um dia coveiro e o nego Kimão bateu bem a terra da sepultura de Cravo Craveiro, e ficou ali aquela terra bem socada, bem batida e quando choveu a terra mais ainda ficou ''isprimida'' e depois que veio sol secou, secou tanto que ate' rachar rachou...e uma manhã o nego Kimão abrindo o portão sentiu um cheiro gostoso de flor no ar...foi cheirando ...snif, snif, snif...e indo , indo e levou um bruta susto ao ver em cima do tumulo do Cravo Craveiro uma plantação nascida da noite para o dia de cravos...era cravo de defunto em profusão, cravos de todas as cores...que lindo!!

           E Kimão jura que ouvia alguem gritando:-

           Me tira daqui ou tira estas merdas de cravos de cima de mim....seu puto de nego Kimão me tira logo daqui ou tira estas merdas de cima de mim...Kimão se queimou, ficou puto mesmo em ser tratado assim, fez ouvido de mercador e não tirou nem quem gritava e muito menos os cravos, alias, jogava todo dia mais e mais sementes de cravos em cima da terra batida....e ria  e gozava

         Ele gostava de cravos. Sepulcrario Kimão nas gostava de rosas. Rosas não era com ele não.

         Naquele cemiterio rosa, rosas não entravam e muito menos ficavam. E tudo ia começar de novo.

         Alias, ja' tinha começado.

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AMELIA BELLA
Enviado por AMELIA BELLA em 21/12/2010
Código do texto: T2683495
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