"CAUSOS" DE MINHA TERRA

Francisquense é fogo. Em São Chico (São Francisco do Sul – SC), se a pessoa der um pum fora da escala musical, por certo cai na boca do povo. Sente aí, leitor, encha seu copo e ouça algumas estórias que circulam nas ruelas desta bela cidade.

Num determinado velório, um bom samaritano da vizinhança achou que o defunto estava muito pouco apresentável. Gente pobre, a família não tinha conseguido um traje melhor. Deixa comigo – falou. Foi ao seu guarda-roupa, escolheu um paletó que há muito tempo não usava (talvez quisesse desfazer-se dele) e levou-o para ser colocado no defunto, que assim ficou mais elegante. Quem sabe se até para entrar no céu os mais bem vestidos têm preferência.

À noite, após o enterro, numa conversa sobre as finanças, lembrou de perguntar à mulher:

– Bem, onde você meteu aqueles dólares que lhe dei para guardar?

– Sabe aquele paletó que você não usa mais? Pois guardei tudo dentro do bolso interno.

Um francisquense, daqueles chegados a farras, voltou à noite de uma festa num estado lastimável. Chegando em casa, foi aos esbarrões pelo corredor. De um lado era a porta de seu quarto, de outro a porta dos fundos, que ia dar no quintalzinho onde criavam galinhas e uma enorme porca. Foi nessa porta que nosso amigo entrou, ou melhor, saiu. Jogou-se no chão e dormiu ali mesmo. Quando acordou, no outro dia, estava agarrado a um corpo quente, que arfava em suas mãos. Então falou:

– Mulher, que camisola é essa que estás usando, toda cheia de botão?

Aí notou que estava agarrando as tetas da porca.

Bons tempos em que a gente ia de ônibus assistir à festa de Araquari, local próximo à São Chico. Qualquer prêmio ganho nas barracas de bingo ou de argolas era uma alegria: carteira de cigarros, garrafa de vinho barato, refrigerante, etc.

Um cidadão conhecido na cidade foi certa vez a essa festa, vestido a caráter, de terno e gravata. Após a procissão e a missa, dá-lhe churrasco com cerveja.

De repente, deu uma baita dor de barriga. Não havia banheiro. Procurou o mato. Mas primeiro tirou o paletó e o depositou no chão. Estava escuro, e saiu procurando um lugar em que o mato era mais ralo, que a vegetação não lhe atrapalhasse o ato.

Foi tateando, tateando, até que achou um local adequado: chão macio, aveludado. É aqui mesmo! E obrou à vontade. Claro, todos já devem ter adivinhado que tinha largado o “material” em cima do elegante paletó.

Certa vez, um dos médicos da cidade foi chamado para atender uma velhinha na Vila da Glória. Naquele tempo, os médicos costumavam atender seus clientes em domicílio. Tomou o bote do seu Joaquim e lá foi atravessar a baía. A enferma morava num local ermo, mais no interior da vila.

Feito o serviço, o doutor ficou com sede. Pediu aos familiares da velha um pouco de água.

– O senhor doutor não prefere garapa?

– Melhor ainda.

E lhe trouxeram uma cabaça cheia do líquido esverdeado. Não estava gelado, mesmo assim o médico o sorveu todo com enorme prazer. Aaaah! Um menininho de uns 5 ou 6 anos acompanhava curioso seus movimentos. Ao tentar colocar a cabaça numa mesa, o doutor deixou-a cair no chão. O recipiente, que era fraco, se partiu em pedaços. Aí, o garotinho o encarou, furioso:

– O senhor quebrou o piniquinho da vovó!!

Hilton Gorresen
Enviado por Hilton Gorresen em 19/12/2010
Código do texto: T2680703
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