O Bêbado e a Feia (cantiga de escárnio)

As feias nunca se queixam

Por lhes faltarem poesia.

A não ser a do escárnio

Do escritor *João Garcia,

Que atendeu logo aos reclamos

De uma feia e sandia,

Não se vê versos pras feias,

“onde está a isonomia? ’’

Eu mesmo nunca falei

Das feias em meu trovar,

Embora nunca cobrado

Vou aqui homenagear:

- As feias que me perdoem,

Não há muito que falar.

Se beleza é colírio

A feiura há de cegar!

Uma feia indignou-se

Quando ouviu o meu trovar.

Falou-me da embriaguez

E passou-me a esculhambar.

Eu ainda um pouco sóbrio

Pus-me logo a arrematar:

- Amanhã querendo eu paro

Feiura - não vai mudar!

*João Garcia Guilhade, poeta Português – Trovadorismo

Século XII provavelmente.

Nota: na realidade não existe gente feia, existe sim, gente

que mal se cuida.

José Alberto Lopes®

27/11/2006