O cabra mais azarado do mundo.

     Bebendo naquele sórdido bar de uma cidadezinha nordestina, Clodoaldo já tinha optado pelo suicídio como unica saída para os seus problemas: fora deitar-se como uma vadia e pegara AIDS, tinha sido demitido do emprego e a mulher fora embora com outro sujeito, levando as economias de toda a sua vida. Com os últimos trocados no bolso e enquanto esperava a chegada da coragem necessária para estourar os miolos com uma carga da espingarda, Clodoaldo já tinha dado cabo de mais de uma garrafa de cachaça.
     Perto dele, tinha um homem, já bêbado, típico bêbado bosta, com a mania de apostar por quase tudo:
     - Aposto que o próximo que vai entrar no bar tem nenos de 40 anos! Aposto que o primeiro a sair vai ser daquele lado do bar! - e blá-blá-blá.
     Nesse momento, Clodoado viu que entrava um homem que ele conhecia desde os seus tempos de menino e por isso sabia que tinha um defeito físico de nascença: tinha três testículos! Rápido, passou-lhe pela cabeça uma idéia para tirar algum dinheiro do otário que tinha a mania de apostar. Com uma boa grana no bolso, poderia adiar a idéia do suicídio. Chamou o homem do defeito de nascença e lhe propôs:
     - Olha, não diga pra ninguém que você tem "aquele" defeito físico. Vamos arrancar uma grana daquele idiota ali. Topa?
     - Topo - respondeu o outro.
     Então, Clodoaldo chamou o homem que apostava tudo e lhe disse:
     - Olhe, meu amigo, aposto duzentos reais que se a gente somar os ovos aquele homem ali com os ovos de qualquer outro que chegar darão cinco ovos!
     - Cinco ovos? Cabra doido da moléstia é você, sô! Topo!
     E ficaram aguardando a entrada do próximo homem no bar. Surgiu um caboclinho franzino, chapéu na mão, cigarrinho de palha na boca. Clodoado chamou-o confiante:
     - Meu amigo, é o seguinte: apostei com o compadre aqui que, somados os seus ovos com os daquele homem vão dar cinco ovos. A gente dá uma grana para vocês dois tirarem as roupas para comprovar o fato. Topa?
     O caboclinho deu uma risadinha baixa, exibindo uma boca precocemente desdentada:
     - Olha, topar eu topo, mas acho que o senhor já perdeu a aposta.
     - Como assim? Como já perdi?
     - Porque eu só tenho um ovo, meu senhor. O outro piranha comeu quando eu, ainda criancinha, nadava no rio.



Santiago Cabral
Enviado por Santiago Cabral em 10/12/2010
Reeditado em 10/12/2010
Código do texto: T2664419
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