LOTAÇÃO PARA O DESESPERO...


Nossa, só quem anda de "BUSÂO" todo santo dia é que pode definir com toda a clareza essa incrível sensação.
Lembro-me de um episódio que ocorreu lá pelos anos 90, onde naquela época eu trabalhava, e estudava Jundiaí, uma cidade vizinha à minha.
Naquele tempo eu saía às 18:30 do serviço, ia correndo rumo à escola para assim poder entrar no máximo às 19:00, onde sempre ficava um babaca tomando conta da porta verificando os que chegavam atrasados. ( eu quase sempre era um deles )
Estudava até às 22:40, e depois disso era outra correria até o ponto final onde com muita sorte sempre conseguira tomar o último ônibus para a minha cidade, que quase sempre partia às 23:05 da noite.
Como de costume, este coletivo sempre partia totalmente abarrotado de pessoas, se existiam acomodações para 40 pessoas sentadas e 30 em pé, ele sempre saia com 50 sentados e 90 em pé.
Mas tudo bem, nem tinha o que reclamar, pois isso nada adiantaria.
Um belo dia, saí da escola em mais uma correria, rumo ao ponto final como sempre fizera, e para meu espanto vejo a lata de sardinhas tamanho família fechando as portas e iniciando sua partida.
Sem nem pensar em nada, comecei a correr feito um louco atrás dele, pois se perdesse o ônibus, eu estaria frito... Teria que andar mais de 30 quilômetros até chegar em casa, ou então iria dividir um banco de praça com qualquer mendigo que por ali morava.
Nessa hora que pude perceber o companheirismo do povo Brasileiro, quase todos aqueles que estavam dentro de todo aquele aperto, chamaram a atenção do motorista sobre todo o meu desespero.
Foi quando o mesmo parou o veículo deixando eu entrar.
Totalmente suado e sem condições de pronunciar uma palavra sequer, pago a passagem e transpasso a roleta.
Aperta aqui, aperta ali, pisão no pé, cotoveladas, espreme-espreme e todos iamos felizes rumo ao seus destinos.
Já angustiado pela apertadíssima rotina, percebo num instante de sorte, que havia um lugar vago a poucos sentímetros de minha tão cansada carcaça. Sem hesitar, começo com muito esforço a atravessar as barreiras humanas rumo ao meu objetivo...

Com licença... com licença... Desculpa moça não queria pisar em seu pé... com licença... com licença... Consegui sentar...
Que alívio para meus pés e pernas, nem acredito na sorte que tive, e o mais incrível de tudo isso, é que o lugar era o da janela... como pode isso??? Estava tão feliz que nem me questionei o por quê que ninguém se prontificou em sentar ali. Danesse pensei eu...
Encosto a cabeça na janela e começo a me preparar para uma soneca rápida, pelo menos até eu chegar em minha cidade.
No mesmo banco que eu, estava uma senhora que sei lá porque, sempre ficava me olhando com rabo de olho... Me olhava e quando eu alinhava o meu olhar como o dela, a mesma mudava seus olhos de direção. Isso ficou se repetindo por quase 10 minutos, nisso comecei a perceber que alguns passageiros que estavam em pé, também começaram a falar baixinho ao mesmo tempo que me olhavam... Comecei a ficar preocupado com isso, e por um instante passou pela minha mente que talvez uma de minhas roupas estariam rasgadas, podendo deixar à mostra alguma coisa que não deveria estar... fecho minhas pernas tentando talvez, conter alguma irregularidade em minhas vestimentas...
Nesse momento a mulher que está ao meu lado não se contém, e me fala o que a tempos estava querendo falar...
"Ei meu filho, preciso lhe contar algo..."
Sim pode falar Senhora, respondo eu, ainda encabulado com toda aquela cena...

"Então, bem antes de você entrar no ônibus, bem ali no banco de trás, estava sentada uma mulher com seu bebê, onde o mesmo devido ao balançar do ônibus, veio a vomitar bem aí no lugar onde você está sentado... "
Naquela hora meu chão se abriu... Lentamente viro a cabeça para o lado da janela e começo a descer o meu olhar até que ele se fixe no acento do banco... e o que vejo atestara tudo o que aquela mulher viera a falar... sentei no vômito de sei lá quem.
Começo a ter espasmos de nojo, e fico dividido entre a iniciativa de levantar e sair dali, ou então permanecer sentado "Naquilo".
Decido levantar... Quando coloco a mão no apoio do banco da frente e inicio o movimento de subida, percebo que a mulher que estava ali a poucos instantes atrás, sumira inexplicavelmente... Quando entro no corredor, percebo que outra coisa estranha viera a acontecer... Do nada o corredor ficou quase que vazio, eu parecia um príncipe encantado... todos abriram caminho para que eu passasse...comecei a andar e pude perceber que algo se desprendia de minhas partes baixas caindo assim sobre o corredor do ônibus... nem olhei para trás, continuei a andar rumo à saída, onde naquela época, a saída era próximo ao motorista.
Fiquei perto dele e decidi descer no primeiro ponto de ônibus que visse... e assim eu fiz. Fui pra casa a pé... andei 10 quilômetros com a bunda vomitada e a cara avermelhada de tanta vergonha....
Na minha mente só pairava um pensamento...
Eu odeio ônibus!!!

(O pior é que isso aconteceu mesmo... um dos piores dias da minha vida)