Safadeza
O Nardinho tinha vindo do Norte e era servente de pedreiro numa dessas obras onde abundava a nortistaiada.
Com o salário mais baixo que cu de cobra resolveu dar uma dura no chefe , pedindo aumento.
- A coisa tá feia, patrão! O dinheiro mal chega e já vai no aluguel, no dicomê e no dibebê. – argumentou. – Roupa que é bom já faz cinco mês que compro nada. Preciso de um aumento!
O chefe contrargumentou:
- Por enquanto não dá! Mais pra frente quem sabe.
Foi aí que o Nardinho apelou pros baixos instintos:
- Patrão, a coisa tá tão feia, mas tão feia, que nem pruma bimbadinha tá sobrando! Daqui a pouco a porra empedra no bico!
- Bem, se a coisa tá assim eu posso quebrar teu galho.
- Vai dar um aumento?
- Mais ou menos! Tá a fim duma bimbadinha maneira?
- Claro.
- Sabe aquele engenheiro japones que vem todo sábado conferir a obra?
- Sei.
- Então. . . ele é chegado num do Norte. E já comentou que te acha uma gracinha. – e explicou: enquanto o aumento não vem, quebra o galho com ele mermo. Topas?
Não que o Nardinho fôsse fãzasso desse tipo de sacanagem, na verdade gostava de mulher mesmo, mas “até que é bonitinho o japa” pensou e, como quem tá morrendo afogado não escolhe barranco pra se agarrar, pode estar atulhado de arranhagato que neguinho nem aí e junta, vamulá, topou.
- Amanhã é sábado, lá pelas duas da tarde aparece.- assanhou o chefe – É só ir atrás dele quando entrar no barracão de sacarias. Certo?
E foi assim. Quando o engenheiro apareceu na obra ,e depois se encaminhou para o depósito toda a peonada se assanhou pra ver o fundunço. O Nardinho, como quem não quer nada saiu de fininho e prucutum adentrou também. Porta encostada só daria para ouvir a safadeza.
Mas vamos explicar aqui que a safadeza não era o ato em si. Acontece que o chefe do Nardinho era um gozador de primeira e tinha inventado a história da suposta viadice do engenheiro japa. Na verdade o carinha era hetero assumido, casado, pai de duas meninas lindas e para azar do garanhão nortista, faixa preta de karatê. Por isso o assanhamento geral!
Como disse antes não dava para se ver nada, mas o que se ouviu foi um fuzuê dos diabos dentro do depósito. Uma rasgação de sacos de cimento e cal. Uma nuvem branco-acinzentada se levantando. Uns aiaiais, uns uiuiuis, uns fdps pra cá, uns pqps pra lá, todo mundo preocupado com a situação do Nardinho.
Dez longos minutos a porta se abriu, todos pescoçaram na direção da dita cuja e quem me sai levantando a calça, ajeitando a camiseta e dando uma mãozada no cabelo ralo?
Quem? Quem? Quem?
O Nardinho, todo suado e remungando:
- Ara! Ara! Não queria dar não!