Cada uma se vê...

Nesses dias frios da alma vou até o escritório e permaneço olhando fixo para minha placa de meditação onde está escrito em tipo times new roman, corpo 100, a seguinte frase entusiástica: Se ninguém te nina, nina-te a ti mesmo. Assim dormi e quando acordei estava com Bram Stoker. (Estamos vivendo uma época em que as pessoas sentam na sala, cruzam as pernas, fumam vários tipos de cigarros e acabam dialogando com as almas. Portanto sou da opinião de que o confessionário psicanalítico é o único caminho evolutivo da espiritualidade). Não gostei nada desse escritor vitoriano metido a besta. Para acabar com a empáfia fui logo atacando e lhe disse na cara que se Drácula tivesse sido criado com tipo sanguíneo “O negativo” seria mais detestável. Ele concordou contrariado e foi logo indo embora.

O telefone finalmente tocou. Era meu advogado, doutor Zé. Homem de conhecimento profundo de leis e livros sólidos que ele deposita no criado-mudo para falar com ele de modo bem abstrato. A mediunidade advocatícia é muito aconselhável. Está em voga e é feita de grande utilidade. A mediunidade advocatícia leva o doutor a ganhar uma causa carrascal de má-fé com espírito de Voltaire. Este último um agiota escravista brilhante e da academia. Zé Pereira ligava para se desculpar. Havia gozado um fim de semana em águas termais sumindo de audiência decisiva. Sem a parte opositiva a causa é vencida diretamente pelo outro mesmo que o outro tenha matado o presidente. Que sendo assim e sem razão nenhuma havia vencido. Meu carro havia apanhado muito numa colisão com o Chefe do Departamento de Trânsito que voltava da educação para o trânsito na contramão em transe. Vivemos numa época de muito trânsito. A impressão filosófica que fiquei dos fatos definiu para mim que a educação financeira do departamento de trânsito comprova uma realidade esmagadora.

Há hoje choques desse aprendizado nas estradas, nas rodovias e até nos atalhos de saúva.

Mas num universo superpolulado é inacreditável ainda não ter sido encontrado um terrestre extra. Começo a debater isto com Cristo que havia passado para me dar boas novas e tomar um cafézinho. Diálogo dos mais proveitosos. Logo revelando que se não tivesse chegado onde chegou teria virado historiador, homem cansado de metafísicas. Pendendo para o lado de Confúcio no diálogo que travamos, me revelou desconfianças para com o seu melhor amigo. Estava atrás de Judas para uma palestrinha de moedas porque o povo sem moeda valorosa tem economia inexplicável. Eram amigos e andavam todo o tempo unidos. Judas além de traidor desconcertava a sua máxima predileta: diz-me com quem anda e te direi quem és, tornando-a sem grande efeito, exceto para enamorados. Antes que saísse do escritório lhe disse: Cristo foi Brutus quando falou daí a César o que é de César.Hein?

Ele riu pela primeira vez e desapareceu na neblima.

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