POPULARIDADE
A escola era muito longe, por isso, todos os dias, ele tomava um ônibus que passava a alguns quarteirões de sua casa.
Na viagem ele observava que, sempre quando o ônibus diminuía a velocidade e estava prestes a parar, a porta se abria e, alguns garotos, com o veiculo ainda em movimento, pulavam, andando ao seu lado.
Diante dessa atitude, os passageiros, em sua maioria da sua idade, olhavam os garotos com admiração, principalmente, as meninas.
Foi aí que ele teve a idéia de acompanhar os garotos e saltar do ônibus em movimento.
Sabia que tal idéia era absurda e irresponsável, mas, ele não estava mais agüentando viver da forma que vivia.
Queria chamar a atenção das pessoas, queria ser reconhecido por algo, afinal, se sentia invisível.
Nada em si chamava a atenção.
Não era bonito, não era inteligente, não era bom na pratica de esportes, só sabia jogar futebol, ou melhor, conhecia as regras, pois, era um jogador medíocre.
Não era descolado, não usava roupas de grifes, não gostava de bonés, não usava brincos ou piercings.
Era tímido.
Não gostava de rock.
Ainda por cima era bem gordinho.
Enfim, era totalmente invisível para a molecada da sua idade.
Mas, ele queria dar um basta nisso.
Queria chamar a atenção.
Queria ser admirado, reconhecido.
Já estava decidido, iria esperar o melhor momento e descer do ônibus em movimento, assim, chamaria a atenção, principalmente das meninas.
Seria o assunto do momento.
A partir daquele dia seria popular.
POPULAR.
Analisou metodicamente tudo o que iria fazer, quando e como seria feito.
Tudo pronto, preparado, partiu para a execução.
O acontecimento dar-se-ia no retorno da escola, afinal, se algo desse errado não teria que enfrentar os olhos dos alunos por muito tempo, não que não acreditasse na sua capacidade, mas achou melhor se precaver.
Esperou que todos os alunos entrassem no ônibus para entrar e como o ônibus estava lotado ficou de pé, próximo à porta.
Durante todo o trajeto, fez e refez os passos a serem dados mentalmente, para que nada desse errado na execução.
Quanto mais próximo chegava o momento, mais aumentava sua ansiedade, por isso mascava chicletes interruptamente e apertava seus dedos estralando-os, chegando a incomodar alguns passageiros, que, olhavam-no com raiva.
Era chegado o momento, o ônibus começou a diminuir sua velocidade a porta se abriu, então ele, sem titubear, saltou.
O salto foi um sucesso, no entanto, pisou ligeiramente em falso se desequilibrando, mas, com uma tamanha rapidez e esperteza conseguiu se equilibrar, saindo andando sorrateiramente ao lado do ônibus.
Estava feliz.
Tudo havia transcorrido muitíssimo bem.
Sentiu o gosto da vitória e sem olhar para trás imaginou o olhar dos alunos para si.
Estava orgulhoso de sua façanha.
Mas de repente, um grito:
- Muito bonito heim! – era uma voz feminina – Ta querendo se matar seu filho de uma mãe – era sua mãe que esbravejava, agarrando fortemente sua orelha – Vou te ensinar a viver, seu moleque irresponsável – dito isso, ela ainda deu-lhe dois tapas na bunda.
Fechou os olhos, decepcionado.
Ao abri-los, conseguiu ver os olhares dos passageiros acompanhando toda cena.
Quis morrer.
Pois, teve a certeza de que, a partir daquele dia seria, muito, muito popular.
E como seria.