como perder uma orelha.

Eu, outra vez aprontando, tinha na ocasião seis anos de idade, no município de Gurupi-Go, hoje, Gurupi-To.

Minha mãe, desde muito cedo teve que pegar forte no batente para nós (eu e meus cinco irmãos) não passarmos por nenhum tipo de necessidade, então ela com muito custo conseguiu comprar uma maquina de costura Singer, aquela maquina era o sonho da minha mãe, modelo da época com mesa de madeira branca envernizada, tudo que minha mãe queria.

Dona Isaura (minha mãe) era também professora do primário e dava aulas pela manhã numa escola próximo da nossa casa, um belo dia estava eu brincando pelo quintal de nossa casa quando achei num velho barreiro (buraco grande de onde foi tirado barro para fazer a casa e que servia de deposito de lixo que era produzido pelos moradores da casa) uma faca velha e cheia de dentes, mais perecia um serrote. Sem que meus irmãos notassem, levei a faca para dentro de casa e comecei a esculpir a mesa da maquina nova de minha mãe.

Cortei todo o entorno da mesa da maquina fazendo uns cortes em “v”, no momento achei aquilo o máximo, pois a mesa para mim, tinha um aspecto feio e aqueles cortes a deixaria mais apresentável, claro que aos olhos de minha mãe eu tinha desgraçado o móvel da maquina e teria que ser duramente castigado pelo que fiz.

Minha mãe ao ver a arte que tinha feito esbravejou:

-Quem fez isso na minha maquina?

E todos, a uma só voz.

-Foi o NETO!

-Vem cá moleque, por que tu fez isso? O que te deu na cabeça? Tu tá ficando doido?

-Eu fiz pra ficar bonita!

-Como tu fez isso?

-Foi com uma faca!

-Que faca é essa?

- Que eu achei no quintal!

-Traz essa faca pra mim agora!

Então fui buscar a faca já temendo o pior.

-Me dá essa faca aqui, onde estava essa faca?

-Lá no barreiro.

-Sabe o que vou fazer com essa faca agora?

-Não senhora.

-Vou cortar tua orelha com ela!

Pra que minha mãe disse aquilo? Foi um desespero só. Comecei a chorar dizendo que não queria ficar sem orelha e chorei muito.

Mas, minha mãe não se comoveu, na verdade ela não me cortou a orelha, nem mesmo fez menção, mas, me deu uma surra de cinto de couro que lembro até hoje, ela batia e dizia:

-Isso é pra tu nunca mais fazer estripulia.

E batia com vontade, não adiantava espernear quer o coro continuava caindo e foi surra que não foi brinquedo não, como se diz, pau de dar em doido.

Não satisfeita com a surra que me aplicou ela ainda disse:

-Vou falar para o Antonio (irmão dela, considerado pelos sobrinhos como um tio carrasco), ele vai dar jeito em tu.

Foi dito e feito, ela realmente chamou meu tio Antonio e relatou tudo como havia acontecido, então o Tio Antonio me chamou e falou:

-Agora quem vai acertar teu passo sou eu!

Nisso, com uma de suas mãos escondida para trás me pegou pelo braço e disse que com a mesma faca cortaria minha orelha.

Fiquei em pânico, pois sabia que ele seria capaz de fazer tal atrocidade e comecei a gritar desesperadamente, já que o mesmo me pegou pela orelha e começou a esfregar a faca nela.

Minha mãe que estava do nosso lado nada fez para impedir meu tio.

Só que ele passava as costas da faca na minha orelha, sem forçar, assim não tinha como cortá-la, já que na verdade o mesmo não desejava fazê-lo.

Terminada a seção de tortura meu tio me deu também uma baita de uma surra, quando terminou a surra e me soltou disse:

-Nunca mais faça uma estripulia dessas, pois esta dando prejuízo a tua mãe que tanto luta pelo sustento e educação de vocês.

Pode não parecer, mas fiquei apavorado com a possibilidade de ficar sem orelha, não imaginava como seria minha vida sem ela. Graças a Deus meu tio não era tão ruim a ponto de mutilar um sobrinho dele.

Depois deste episódio muitos outros vieram, contarei em outra oportunidade.

Bert Noleto
Enviado por Bert Noleto em 16/11/2010
Reeditado em 07/12/2010
Código do texto: T2618575
Classificação de conteúdo: seguro