Causos de viagens
 
Dia 8 de outubro. Aqui estou eu de novo dentro de um ônibus, agora para Ribeirão Preto. Vou encontrar minhas filhas, genro e neto.
A viagem é longa. No ônibus o silêncio era total, até que duas senhorinhas a minha frente começaram a interagir.
Diante da paisagem do campo, elas relembraram os tempos de criança: corridas pelo quintal, brincadeiras no meio das árvores e dos marimbondos. Uma delas se lembrou de um maribondo marrom, “um da cara bonitinha”, segundo ela. Maribondo tem cara bonitinha? Pensei comigo.
Mas logo minha atenção se desviou ao ouvir uma voz alta vinda do fundo do ônibus. Uma senhora contava seu caso em alto e bom som, sem preocupação de compartilhá-lo com todos lá dentro. Ela já foi contando que morava só e tinha uma vida tranqüila, até que sua mãe, de 83 anos, e sua irmã com deficiência foram morar com ela. Para acabar de inteirar, segundo ela, a irmã veio com um filho de três anos. E tudo isso logo no momento em que ela havia reencontrado um antigo amor de adolescência, de 40 anos atrás, relatou a senhora.
Na verdade, a mulher estava radiante com o reencontro e com os rumos que a história poderia tomar. Telefonava para as amigas e contava a novidade amorosa.
O felizardo era separado, tinha dois filhos e morava no exterior. Ela comentou que ele se encontrava gripado e lamentou a situação, dizendo que, agora, nesse momento de reencontro, o queria muito bem de saúde agora.
Os telefonemas continuaram, até que o balanço do ônibus fez com que quase todos dormissem. Ao meu lado, rindo desta história de amor, estava Fabiana, uma enfermeira que ia visitar antigos parentes.
Silêncio. Todos estavam dormindo ou viajando no tempo.
Espero que todas as histórias que eu ouvi tenham um final feliz. Que a mocinha com seu belo bebê reencontre a mãe em Londrina. Que as senhorinhas do maribondo revejam os amigos e relembrem os velhos tempos. Que a história de amor tenha um belo final.
Chegamos ao nosso destino. O mais engraçado é que todos se despedem como velhos amigos. Ao sair do ônibus, vejo o meu lindo netinho e minha filha. Aí, começa outra historia...
 
ALBsilva
Enviado por ALBsilva em 12/11/2010
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