UMA AVENTURA NO OIAPOQUE - AP.

UMA AVENTURA NO OIAPOQUE - AP.

Oi, eu sou o JANIO, mas os mais chegados me chamam de jirau, e vou relatar agora mais uma de minhas aventuras no Norte do Brasil.

No ano de 1986, trabalhei com extração de ouro no leito do rio Oiapoque que faz divisa do Brasil com a Guiana Francesa e está situado no extremo norte do pais no Estado do Amapá no município de Oiapoque.

Lá passei por algumas aventuras dentre elas uma muito engraçada que rendeu boas gargalhadas por vários dias e que começou na semana santa daquele ano.

Eu, juntamente com os mergulhadores que trabalhavam comigo saímos de uma localidade chamada de “estirão São Paulo” isso depois de passar por maus bocados neste lugar, nos dirigimos para o alto “Camopí” que é a localidade onde estão assentados (do lado Frances) os índios da tribo do mesmo nome.

Depois de mais de 12 horas de viagem, pegando sol e chuva nas costas, tendo que transpor corredeiras e por vezes nos arriscado descendo da canoa para trocar o pino da hélice devido avaria, chegamos a uma localidade próximo à aldeia “Camopí” e que alguns anos depois foi denominado de “Vila Brasil”.

Com o tempo a localidade ocupada pelos garimpeiros (futura VILA BRASIL) foi crescendo e foram chegando mais e mais garimpeiros e junto com eles todo tipo de gente que acompanhava aqueles trabalhadores, dentre estes estavam: prostitutas, donos de bares ambulantes (que eram montados e desmontados conforme mudança dos locais de extração do minério), cozinheiros vendedores ambulantes (sacoleiros(as) e até mesmo pessoas que demonstravam atitudes suspeitas. O trabalho era degradante e de alta periculosidade, mas, mesmo assim ninguém arredava o pé, pois o sonho de todos e de cada um que ali estava era um dia encontrar o “ELDORADO”, ou seja, um veio de ouro que proporcionasse a quem o encontrasse, uma grande riqueza e com isso passaria a ter uma vida financeira mais tranquila.

Tinha um mergulhador que trabalhava comigo e seu apelido era “Curoca” o nome mesmo nunca soube qual era, ele tinha uma aparencia de indio, (estatura mediana, magro de cabelos e olhos negros que lembravam duas petecas), certo dia Curoca queria ir ao prostíbulo, mas tinha medo de ser roubado pelas mulheres que ali trabalhavam então Curoca, entregou-me seu ouro que estava muito bem acondicionado dentro de um frasco de vitamina C efevercente (esse tipo de recipiente era bastante usado pelos garimpeiros para guardar ouro) e se dirigiu até o local onde trabalhavam as damas da noite, o problema é que Curoca bebeu muito antes de adentrar ao quarto com a dama. Chegando no quarto, Curoca fez o que quis e quando foi sair perguntou para moça com a qual estava:

-Cadê meu ouro vagabunda?

-Tu ta ficando doido, eu não tenho teu ouro! tá jabá!

-Como num tem? Se meu ouro tava aqui agorinha mesmo e não ta mais.

-Eu já disse que não peguei, tu quer é dá bico seu safado!

-Eu sou safado e tu é ladrona, me dá meu ouro se não te dou porrada agora!

-Então tu vai ter que bater, pois eu não tenho teu ouro, filho da puta!

Foi mesmo que dar porrada em Curoca, chamar ele de filho da puta era como pedir para apanhar, pois se uma coisa que Curoca prezava muito era a honra de sua mãe, pois nós que trabalhavamos com ele já conhecíamos sua história e de como sua mãe lutou para criá-lo e seus seis irmãos, sendo Curoca o mais velho e tendo o mesmo que lutar para ajudá-la na educação e sustento dos irmãos menores.

Curoca então falou:

-Agora eu vou é te matar! Por que não é qualquer uma que fala assim da minha mãe não! Ainda mais uma puta rameira que nem tu!

E Curoca começou o show de pancadaria, não fosse a intervenção dos amigos e do dono do prostíbulo, a mulher teria apanhado muito.

Então um dos mergulhadores que trabalhava comigo chamou o Curoca e disse:

-Curoca tu deu teu ouro pro Jirau segurar! Não te lembra?

- Não! Não me lembro, foi mesmo? Disse Curoca.

- Foi cara, tu tá ficando doido, já pensou se o pessoal agora descobre isso e resolve te dar umas porradas? Vai sobrar pra todo mundo! Vamos dar o fora daqui agora!

- então vamos logo que a turma da pancadaria tá vindo ai!

E vinham mesmo, eram pelo menos uns oito homens doidos pra baixar a porrada, pois o Curoca havia batida na mais bela das mulheres que tinha no prostíbulo, ela era tão bonita que os homens ficavam esperando ela terminar sua “função” com os clientes só para dar umazinha com ela e olha que ela cobrava em ouro pelos seus serviços e para agradar os clientes era cobrado 5 gramas por uma hora de amor.

Então quando Curoca chegou ao barraco perguntou-me:

-Jirau, eu te dei meu ouro pra tu segurar?

-Deu, ele está todinho comigo, assim como você deixou!

-Poxa cara, eu quase fiz uma besteira por causa desse ouro.

-Por causa do ouro não! E sim por causa da cachaça que tu bebeu.

-É verdade, foi por conta da maldita cachaça!

-Agora vê se você não aparece por lá por alguns dias, se não o pessoal inda pode estar com raiva de você e te baixar a porrada.

-É! Só que para me bater tem que ser muito macho, pensa que sou froxo é?

-Não que você seja frouxo, mas o pessoal de lá está com raiva de você, então eles não vão te enfrentar de mãos limpas, com certeza irão de cacete na mão e até mesmo teçado e revolver.

-Sendo assim, eu vou é baixar, e passar pelo menos uns quinze dias lá no Oiapoque!

-Realmente é melhor.

Na verdade Curoca foi para Oiapoque e depois foi para o interior do Pará e não mais tivemos noticias suas.

A Vila Brasil é hoje uma localidade carente de serviços públicos destinados à comunidade, não bastasse o descaso das autoridades municipais e estaduais ainda tem o problema da criação da Área de Preservação Ambiental “Parque Montanhas do Tumucumaque” a VILA foi erguida no entorno do parque antes de sua criação, os moradores da VILA alegam que tem direitos pois chegaram ali antes da criação do parque e hoje são impedidos de entrar na reserva ambiental portando até mesmo armas destinadas à caça e certos produtos necessários à sua subsistência e de suas famílias.

Então fica aqui um alerta as autoridades competentes: pedimos aos nossos representantes frente ao governo Estadual e Federal que tomem providencias no sentido de solucionar estes problemas e deixar que os moradores da Vila Brasil sigam seu curso natural da vida, sem maiores entraves.

Macapá – AP 12 de Novembro de 2010.

Bert Noleto
Enviado por Bert Noleto em 12/11/2010
Reeditado em 12/03/2013
Código do texto: T2612376
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