UMA PROMESSA DA POLÍTICA
Conta-se que , numa cidadezinha do interior cearense, um político daqueles tradicionais, como Major Antônio Morais, percorria as comunidades atrás de votos para conseguir chegar à prefeitura local. Utilizava um palavreado para Odorico Paraguassu nenhum botar defeito, daqueles que se diz muito e praticamente não se fala nada:
- Meu povo querido, amado e idolatrado, venho aqui diante de todos para apresentar-lhes o impoluto plano de governo que pretendo implantar nesta urbe, o qual será a pedra angular do desenvolvimento e do progresso regional...
E continuava:
- Os poderes públicos precisam atuar mais fortemente no combate à pobreza e à marginalização das classes menos favorecidas.
- A globalização e o neoliberalismo são uma praga para a sociedade brasileira...
Muitas vezes, copiava até frases feitas e que frases:
- Nunca antes na história deste país um candidato esteve tão preocupado com as mazelas sociais aqui existentes...
- Não me deixem só! Peço aos jovens que saiam nas ruas com as cores de nossa cidade...
- Vou fazer nossa cidade crescer cinqüenta anos em cinco.
- Assim não pode, assim não dá! É preciso amar nossa cidade ou deixá-la! É preciso amar as pessoas como se não houvesse amanhã.
Com todos esses lulismos, collorlismos, fhclismos e até russolismos (perdoem-me os neologismos), o que fez o nosso dileto candidato a vencer o pleito foi mesmo a grande promessa que fez. Tratava-se do problema do fornecimento de água para uma boa parcela da população, a qual morava na Serra da Sequidão.
- Meu povo querido, amado e idolatrado! É inaceitável, beirando ao absurdo completo, o fato de nossos irmãos da Serra da Sequidão ainda estarem sem água, tendo um rio caudaloso correndo ao sopé da famigerada serra. Inconcebível terem as famílias de carregarem latadas d’água ao lombo de muares serra acima, com tamanhas tecnologias hidráulicas de que dispomos, ainda não se ter exigido do Poder Público uma providência para resolver tamanho problema.
Ao concluir da frase, seu assessor lhe explica: “Dotô, a água não sobe a serra por causa da lei da gravidade...”
Pra quê? Foi só o assessor calar a boca o coronel político brada ao microfone, em meio a visíveis gotículas de saliva umedecendo os ouvintes:
- Mas que lei é essa? Pois saibam que se essa lei for municipal, farei o possível pra derrubar essa lei. Se for estadual ou federal, buscarei todo o apoio político, falarei com meus contatos na capital, vou ao governador, ao presidente, vou ao papa se for preciso mas botarei essa lei abaixo e a água morro acima, para o bem de todos e felicidade geral da nação!