'' KALA  ADA  ''

             Fui batizada assim...Kala Ada.

             E cresci assim...Kala Ada.

             E ao crescer mais ainda kalada me tornei e todos pensam que foi por influencia do meu nome, Kala Ada,  que nada...sou kalada por fora porque por dentro sou um vulcão em erupção prestes a explodir e com tudo e todos a colidir...qualquer dia ainda bato de frente e ai todos vão ver o tamanho da explosão...Krakatoa foi pouco, se naquela explosão as cinzas demoraram dois anos para dar volta ao mundo, desta vez de tão poderosa que sera', cinco anos no minimo levara'....bummmmmm!!

            Tambem que nome que me colocaram não?

            Kala Ada !!! poderia ter sido so' Ada, poderia ter sido Alba, Karla, Keila, Cristina, Maria..mas não...tinha que ser Kala Ada e podem imaginar o que passei desde a infancia ate' agora?

            Na escola?...a professora me mandando resporder uma pergunta e ela mesma dizendo:-

            Kala Ada quem descobriu o Brasil?

            E eu kalada...ela não me mandou ficar kalada? e a molecada marvada gritando:- Kala Ada..Kala Ada...e eu kaladinha ali no meu cantinho , no meu canto kalada..coitadinha de mim!!! levava Zero e mais Zeros e pior!!! pensavam que eu era surda, muda e idiota...mas era heim???, ficar kalada tinhas suas vantagens...

             Todo mundo confiava em mim, na Kala Ada que ficava kalada , nada dizia `a ninguem quando sabia de um segredo...e olhe que eu sabia de muitos, me contavam cada um!!!..sabia que a diretora gostava de '' dar'' Zeros para o professor de matematica e para todos os outros tambem, e a danada era casada...podia??..

              Ela sabia que eu sabia mas fingia que eu nada sabia, eu sabia que ela sabia que eu de tudo sabia mas tambem fingia que de nada sabia...era uma confusão danada de confusa...se era!!! 

               E eu fiquei sabendo um dia que fui buscar giz no quartinho dos fundos da escola, eu vi os dois pelados, ela, a diretora e o matematico lindo, no escurinho do quartinho e quando acendi a luz vi o tamanho do giz que ele tinha..peguei os giz  brancos e continuei olhando o cor de carne..que coisa mais linda...que visão!!!..guardei o segredo ate' hoje, passados mais de quarenta e cinco anos...os dois ja' abotoaram o paleto' de madeira...ainda bem que dizem que aproveitaram muito...repouzem em paz!!!.....danados!!!...

                E sempre que na minha classe    precisavam de giz, la' ia eu buscar e abria a porta devagarinho, a luz não acendia não...meus olhos se acostumavam com a escuridao e eu via muito bem o que '' ela '' , a diretora fazia com '' eles '', pegava meu giz no escuro mesmo e me mandava, kalada, kaladinha...e assim crescia eu ate' que da escola sai.

                 E namorados tive, e quando meu nome dizia eles riam e de mim debochavam...Kala Ada? e voce e' kalada mesmo? eu dizia que sim com aquele sinal de cabeça que quer dizer sim...de tras para a frente..sim, sim...eu era mesmo kalada, kalada eu tudo aguentava, não dava um pio, eu não piava um pio, tudo faziam para que eu virasse '' tagarela '', destramelasse a falar feito '' loura papagaia '', eu nao falava, kalada ficava e eles, os namorados, disto não gostavam...eu era capaz de ficar kalada a noite inteira, apenas grudada, suada, cançada, mas...kalaaadaaaa!!!..era terrivel ser assim, kalada.

            Eu tudo via, tudo sentia, mas que fazer se nasci assim...kalada!!! mesmo nas maiores dores, nas maiores afliçoes que passava, que eu ali continuava, kalada, nem gemer eu gemia, ta' certo que os olhos eu virava, a bunda eu rebolava, as coxas eu encaixava bem encaixadas, eu tambem apertava bem minha xana gulosa, mas falar? que o que !!!..silencio total, nenhum som da minha boca saia, outras coisas saiam, entravam, mas som? que jeito? se eu com outras coisas ocupada estava, num e'??..e assim eu vivia, kalada, kaladinha da silva....

            E um dia um grande artista da tv, do cinema e ate' acho que do tempo do radio, inventou uma personagem, coitada!!! e o tempo todo com ela gritava:- KALAAADAAAA...e ela, tadinha, ficava kaladinha, kaladinha, ai que do' não??

            Agora imaginam a molecada marvada e a homarada tarada o que fizeram comigo então?..era eu por o pe' fora do portão e ja' escutava :-

            Kala Ada....kalaaaadaaaa!!! eu parava gelada, gelada eu ficava e me dava uma raiva de ficar ali plantada dura e gelada, se dava!!!...ahhh mas depois eu mostrava para eles se eu ficava kalada, alias, ficava kalada sim, mas não parada, me mexia tanto, tanto que so' vendo e sentindo para saber....eles sabiam!!!

             E tem muita gente que ate' hoje não me entendem, por eu sou tão kalada?..sei la', nasci assim e assim vou morrer, ja' disse...kalada, os  homens dizem que gostam de mulheres caladas, mas como tenho cabelos castanhos escuros, eles dizem que eu posso falar um pouco, so' um pouco, dizem, que se falo muito eles enjoam facil, facil ,e logo logo ja' vão dizendo Kala Ada? da' para voce ficar um pouco kalada :, eu fico..afinal eles os homens estão pedindo, mandando? então fico kalada, e' melhor e eu gosto de ser Kala Ada a kalada...agora as mulheres!!!!!....falam , falam, falam tanto que eu ate' enjoo e ficam nervosas comigo por que eu não respondo, fico so' no hummm...hummmm...sim sim, não não...kaladinha fico!! elas se irritam...gritam comigo, me sacodem, me pedem:- fala alguma coisa Kala Ala, fala..fica ai kalada não minina...fala!!! falo nada!!!

            E minha mãe me ensinava:-

            Kala Ada, quem pouco fala muito ve...

            Eu vejo, e como vejo...um exemplo?

            Fui visitar um grande amigo aqui no Recanto onde ele tem seu canto...e cheguei de mansinho, kaladinha, não fiz barulho nenhum e tinha um monte de sirigaitas inchiridas por la' tagarelando, galinhando, ciscando...cococoro', cococara'...cisca aqui, cisca la', era pena e poeira para todo lado e ele la'...refestelado como barão, igual coronel baiano sentado na varanda cossando o bicho em pe'...e se fingindo de gostoso, ( fingindo não..ele e', isto que e' pior!!)...nem me viu, sai de fininho, kaladinha, rascunheio um pequeno bilhete e por la' deixei, nem sei se ele vai ver e ler...com tantas por la' quem sou eu, Kala Ada na ordem do dia?...ninguem!!!

           Eu ate' tenho uma certa certeza que ele tambem como minhas primeiras professoras me achavam surda muda e idiota, ele tambem acha...tadinho!!!..mas tenho ca' minhas duvidas..sera' que ele da' conta do recado? de escrever tanto ?..sei não, sei não...lembrem-se que eu sou a Kala Ada...tudo vejo e tudo observo, falo pouco, escrevo muito e fico a maior parte do tempo Kalaaadaaaa....qui dilicia!!!

           E de uma coisa me lembro sempre, foi minha mãe que me ensinou....

           Eu sou Kala Ada a que recebe, a que sabe receber e fico sempre kalada...minha boca e' um tumulo...aberto!!!...rsrsrs.

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AMELIA BELLA
Enviado por AMELIA BELLA em 18/10/2010
Código do texto: T2563553
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