Sopa de Letrinhas

Ontem eu e Cremilda, minha amante, fomos a um mercado diferente dos demais que estamos acostumados a ir. Haviam produtos por lá que eu me remeteram a infância. Para encurtar um pouco o meu relato, vou falar do macarrão que eu encontrei, aliás dois tipos de macarrão: um era em formato de estrelinhas bem pequenas com um furinho no meio. Quando eu era moleque, fazia pulseiras com este macarrão ,e o outro tipo foi em forma de letrinhas.

Levei um quilo de cada macarrão para casa. Pensei: Vou fazer uma surpresa para Cremilda hoje a noite já que as "crionças" dela não estarão em casa. Vou fazer uma sopa de letrinhas romântica.

Cremilda planejava deixar a pivetada na casa da vó, a pedido da mesma, a noite, para levar as "crionças" no zoo no outro dia de manhã.Bem de tardinha, quase noite, a bacurizada já estava de banho tomado e todos perfumados e penteados que nem filhos de barbeiro. Despedidas aqui e alí ,com a saída de todos comecei os peparativos do jantar romântico para Cremilda: uma sopa romântica de letrinhas.

Demorou mais ou menos uma hora e meia a ida e volta de Cremilda. Com uma cara de sapeca, entrando em casa, ela foi tomar banho e se arrumar para a ocasião. Nunca vi alguém se preparar para comer macarrão, mas tudo bem. Sempre há uma primeira vez para tudo ou quase tudo.

Noite chegou e com ela o amor e a expectativa do jantar. A sopa estava mais ou menos com uns vinte alfabetos completos. Era letra a dar com os "zói". Eu já de banho tomado e Cremilda também, fomos para a mesa onde a travessa de sopa já estava posta. Peguei seu prato e numa conchada pequenal de sopa pus a lhe servir, mas sem antes arrumar as letrinhas para lhe escrever uma mensagem. E arrumando as letras escrevi:

"Cremilda, eu te adoro".

Vale lembrar a todos que o prato era pequeno e raso ao qual nos serviamos e tomavamos a sopa. A intenção era antes "brincar" com a sopa escrevendo recadinhos um para o outro. Ela por outro lado pegou meu prato e colocou a sopa e arrumando as letras escreveu: "Eu também, meu amado".

Peguei novamente seu prato e numa outra conchada: "Você é tudo em minha vida" E ela respondeu no meu prato: " Eu não vivo sem você , Geraldo". Mais uma conchada, outra mensagem:" Cre, quero muito brincar de mineiros do Chile com você". E ela: Você já está com a cápsula pronta? Eu respondi: A FENIX já renasceu das cinzas e já tá virando tocha incandecente. Ela: Mas Evo Morales e nem sua mulher vai estar presentes não , né? Eu: Claro que não meu amor. Ela: Acho bom!. Eu: Você vai colocar aquela camisolinha preta transparente que eu comprei pra você na loja de R$ 1,99? Ela: Sim, Geraldo. Eu vou vestir aquela m.erda de camisola que você comprou. Eu: Quer dizer então que quela camisola linda que te comprei você não gostou? Sinto informar a você meu amor que aquela cueca que você me comprou ( tive que repetir o prato de sopa pra ela porque as letras haviam acabado)... continuando.... que tinha o ícone do BAT SINAL na frente também é feia pra caramba. Ela: Bem que eu nunca vi a bat sinal me chamando, agora eu sei que você nunca usou a cueca que eu te dei com carinho. Eu:Podemos parar com as ironias e curtir o jantar? Ela: Sim Geraldo, mas você poderia ao menos ter colocado um pouquinho mais de sal na sopa, tá insôsa. Eu; Quer o saleiro? Ela: Não, já estou perdendo a fome. Eu: Eu também. Ela: Você vai lavar as louças? Eu: Depois eu lavo. Deixa na pia. Ela: Vamos parar de conversar? Eu: Porque? Ela: Já não aguento mais tomar sopa, to quase dando um treco aqui. Eu: tudo bem, mas a noite continua? Ela; sim, vamos para cama? Eu: "vombora".

Bem fomos pra cama, ficamos vendo tv esperando a digestão acabar. Ninguem fez nada do planejado e cada um foi dormir virando cada um pro seu lado com suas letrinhas.

O-d-e-i-o s-o-p-a-s d-e l-e-t-r-i-n-h-a-s.

Geraldo Lys
Enviado por Geraldo Lys em 18/10/2010
Código do texto: T2563081