Perspicácia
Maior sol do mundo e eu lá, embaixo das latas encurvadas que formava o enorme abrigo no terminal de ônibus. As marcas nas axilas revelavam que o meu desodorante já havia vencido há algum tempo, muito tempo, portanto princesas, pensei, mantenham distância, ao menos até a balada...
Armado com uma prancheta fazia minha fiscalização, observando o incessante sobe e desce dos ônibus, visando detectar aqueles onde a lotação excedia o nível de atendimento conhecido por mim como satisfatório e, graças a Deus, faltavam apenas cinco minutinhos para terminar o meu turno ali, poderia finalmente pegar um “busão” com destino a base, bater o ponto e aí só segundona...
Naquela hora da tarde, faltando pouco para as 18, o terminal se encontrava parcialmente lotado. Havia todos os tipos de grupos, casais, estudantes, idosos, uma ou outra criança, todos falando ao mesmo tempo, fazendo feira livre parecer sessão de ioga. Foi nesse cenário que o malandro apareceu.
De longe o notei, pois como estou de certa forma envolvido na área de segurança, me foi fácil perceber que ele vinha nervoso e analisando o ambiente. Em outras palavras, estava escrito na sua testa que ele iria aprontar alguma coisa.
Mas fiquei na minha fazendo o meu trabalho, podia ser um alarme falso, afinal pessoas que nem eu desconfiavam até da própria sombra, só que para o meu azar eu estava certo e por pouco uma confusão muito grande não se armou.
O dito cujo veio gingando até a plataforma em que eu me encontrava sentado num banco e arrancou uma pistola de dentro do sobretudo que não combinava com a temperatura do local e foi anunciando o rapa, mantendo a “perigosa” colada ao corpo:
-- Gente, “vamo” colaborar com o meninão aqui, vão separando celular, relógio, carteira e manda tudo pra dentro dessa sacola que vou passar igual cestinha da oferta da missa do vigário hehe, “vamo” logo que ninguém se machuca.
Percebi a movimentação da galera ao meu lado, já esvaziando os bolsos e não me mexi um centímetro sequer, só de olho na figura. Quando ele veio para o meu lado eu dei o bote, certeiro!
Levantei rapidamente e cochichei calmamente duas frases na orelha do “maluco”, que após refletir por alguns segundos foi guardando a pistola e emendando:
-- Certo gente, certo, deixa pra lá, eu ia fazer besteira, não quero nada não!
E vazou dali antes que caísse a ficha da galera e ele entrasse bem. Algumas pessoas percebendo o meu envolvimento no feliz desfecho daquele episódio vieram para cima de mim me cumprimentar, cheios de interrogações.
-- Não foi nada pessoal, somente disse que eu era polícia e já tinha acionado um dispositivo no meu celular e a casa dele iria cair rapidinho. Ele engoliu e foi embora.
Depois dessa minha explicação saí dali quase carregado como herói, até entrevista para o diário e TV local eu tive que dar. Essa situação me rendeu bons favores junto ao agradecido povo por um bom tempo.
Bem mais tarde quando eu ia de “apesão” para casa, o malandro do terminal surgiu do nada na minha frente e foi logo intimando:
-- E aí “malucão”, como percebeu que era de brinquedo?
E eu sem pestanejar:
-- Estava aparecendo o símbolo da Estrela no cabo...
Maior sol do mundo e eu lá, embaixo das latas encurvadas que formava o enorme abrigo no terminal de ônibus. As marcas nas axilas revelavam que o meu desodorante já havia vencido há algum tempo, muito tempo, portanto princesas, pensei, mantenham distância, ao menos até a balada...
Armado com uma prancheta fazia minha fiscalização, observando o incessante sobe e desce dos ônibus, visando detectar aqueles onde a lotação excedia o nível de atendimento conhecido por mim como satisfatório e, graças a Deus, faltavam apenas cinco minutinhos para terminar o meu turno ali, poderia finalmente pegar um “busão” com destino a base, bater o ponto e aí só segundona...
Naquela hora da tarde, faltando pouco para as 18, o terminal se encontrava parcialmente lotado. Havia todos os tipos de grupos, casais, estudantes, idosos, uma ou outra criança, todos falando ao mesmo tempo, fazendo feira livre parecer sessão de ioga. Foi nesse cenário que o malandro apareceu.
De longe o notei, pois como estou de certa forma envolvido na área de segurança, me foi fácil perceber que ele vinha nervoso e analisando o ambiente. Em outras palavras, estava escrito na sua testa que ele iria aprontar alguma coisa.
Mas fiquei na minha fazendo o meu trabalho, podia ser um alarme falso, afinal pessoas que nem eu desconfiavam até da própria sombra, só que para o meu azar eu estava certo e por pouco uma confusão muito grande não se armou.
O dito cujo veio gingando até a plataforma em que eu me encontrava sentado num banco e arrancou uma pistola de dentro do sobretudo que não combinava com a temperatura do local e foi anunciando o rapa, mantendo a “perigosa” colada ao corpo:
-- Gente, “vamo” colaborar com o meninão aqui, vão separando celular, relógio, carteira e manda tudo pra dentro dessa sacola que vou passar igual cestinha da oferta da missa do vigário hehe, “vamo” logo que ninguém se machuca.
Percebi a movimentação da galera ao meu lado, já esvaziando os bolsos e não me mexi um centímetro sequer, só de olho na figura. Quando ele veio para o meu lado eu dei o bote, certeiro!
Levantei rapidamente e cochichei calmamente duas frases na orelha do “maluco”, que após refletir por alguns segundos foi guardando a pistola e emendando:
-- Certo gente, certo, deixa pra lá, eu ia fazer besteira, não quero nada não!
E vazou dali antes que caísse a ficha da galera e ele entrasse bem. Algumas pessoas percebendo o meu envolvimento no feliz desfecho daquele episódio vieram para cima de mim me cumprimentar, cheios de interrogações.
-- Não foi nada pessoal, somente disse que eu era polícia e já tinha acionado um dispositivo no meu celular e a casa dele iria cair rapidinho. Ele engoliu e foi embora.
Depois dessa minha explicação saí dali quase carregado como herói, até entrevista para o diário e TV local eu tive que dar. Essa situação me rendeu bons favores junto ao agradecido povo por um bom tempo.
Bem mais tarde quando eu ia de “apesão” para casa, o malandro do terminal surgiu do nada na minha frente e foi logo intimando:
-- E aí “malucão”, como percebeu que era de brinquedo?
E eu sem pestanejar:
-- Estava aparecendo o símbolo da Estrela no cabo...