ÀS VOLTAS, NO CASAMENTO DO CHEFE

O fim de tarde daquele sábado era de casamento do chefe, uma destas festas que reuniria o pessoal lá do trabalho, festança que não se poderia faltar, porque até parecia ser uma convocação.

E ela, FAMOSA POR DESCONHECER CAMINHOS, quando soube do "corpo de convidados" resolveu me pedir uma carona para chegar até o local da festa. Achei justo.Por aqui não é nada fácil mesmo se movimentar pela cidade em dia de festa de final de semana, principalmente quando não somos paulistanos da gema.

Não há GPS que dê jeito na confusão do perene canteiro de obras da cidade. Tudo muda a toque de caixa!

E ademais, casamento de chefe é uma experiência inigualável, e há que se entender que tudo tem que sair na perfeita ordem protocolar.

Atrasos nem pensar!

Ainda mais com aquele chefe que tinha compulsão por horário, "pontulalidade inglesa", dizia ele, " é a qualidade dos reis!" nos repetia compulsivamente a todo e a qualquer momento do dia, e não seria justamente na festa dele que chegaríamos atrasadas.

Então, ela que mora num bairro bem distante do meu, me sugeriu que "lhe" telefonasse para que marcássemos um ponto de encontro dos automóveis pelo caminho, mas educadamente, e enfatizou, algo que não me tirasse do meu destino, claro, contemporizou com bastante gentileza.

Achei super razoável e me senti na "obrigação"..

De fato, sempre que posso , procuro ciceronar meus "amigos" pela complicada São Paulo, tarefa meio desgastante...

"Você me liga, mas vê se não me deixa recado na caixa postal, tá? Odeio caixa postal!".

Achei aquela "ordem" estranha, mas enfim...

Logo pela manhã do dia da festa, como ela ainda não havia me ligado durante a semana inteira, teclei seu celular por várias horas, a ponto de descarregar a minha bateria. "Tudo pelos colegas", racionalizei.

Liguei liguei...Nada! Tentei a casa dela, nada! Sequer me retornou, até que, depois dum tempão, consegui, enfim, marcar um ponto de encontro, que seria exatamente duas horas antes do início do tal evento.

Seria mais que suficiente para quem está tão acostumado com a pontualidade do chefe.

Antes de sair, lhe liguei novamente." O quê, você já está pronta? Ainda nem me arrumei..." disse-me bem tranquilamente.

Pressenti que sobraria para mim.

Fui ao ponto de encontro e lá chegando teclei seu número no meu celular recarregadinho!

Nada! E tentei mais muitas vezes... nada! pensei em economizar a bateria até que ela atendeu:"Alô, estou aqui bem pertinho..."

Esperei o pertinho dela por quarenta minutos estacionada num local quase proibido para os dias de fim de semana...

Um guarda da CET de São PAulo me perguntou qual seria o problema, e eu fui logo explicando: o problema é que meu chefe casa hoje e não devo chegar atrasada...meu chefe é super pontual!

O guarda muito atencioso, bastante pontual também, olhou para o horário da placa de informação, e me mandou dar uma voltinha no quarteirão.

Dali há muitas voltinhas o meu celular tocou milagrosamente. Era ela!

"Mas aonde você está? Não te encontrei!" me perguntou irritada- e eu, calmamente, lhe expliquei o lance do guarda.

" Eu já cheguei no ponto combinado há três minutos, e vê se você não se "demora muito" porque tem o mesmo guarda de trânsito por aqui...que também me mandou dar outra voltinha..."

Enfim, depois de tantas voltas e revoltas partimos para o casamento.

Não era fácil chegar lá. Errei alguns caminhos..."mas você não disse que sabia o trajeto?" me perguntava sistematicamente no carro de trás, ao telefone, o que logo, logo nos daria uma multa! Esse seu GPS está desatualizado!

Mas...GPSs não esclarecem as reformas das marginais...pensava eu comigo mesma.

Chegamos enfim ao casório, com pontual meia hora de atraso.

Para minha surpresa o casamento do chefe "pontual" também atrasou duas horas. Quase três, contando com o horário de verão!

Aprendi duas coisas com a minha "saga da carona": Esqueçam a pontualidade do chefe quando o horário deverá ser cumprido por ele. Bobagem! Ele nem lembrará da pontualidade, nem que for a dos reis.

E o mais importante: Nunca dêem caronas para o "coitado do colega" que desconhece a sua cidade.

Você dará muitas voltinhas que nunca te levarão a lugar pontual algum.

(verídico, e que o chefe não me leia!)