Galos, galinhas e ovos de duas gemas.
Estávamos eu e minha prima-irmã Sandra Walesk no Kukukaya, local em Fortaleza-CE onde se dança pé-de-serra e se encontra velhos e novos amigos; estávamos como costumamos estar no mais das vezes, isto é, em paz.
A festa terminada, o resto da nossa turma acertando a conta, vai que nos aparece um parente, por coincidência tio de um dos rapazes que nos acompanhavam. O sujeito nos cumprimentou e ralhou com o sobrinho por não haver informado a presença "das primas bonitas" - a quem ele prontamente carregaria para sua mesa, como se estivessem desacompanhadas, perdidas ou, pior, extremamente necessitadas de sua atenção. (Eu nunca havia sido muito chegada ao indivíduo, mas fui educada por uma mãe tão pouco gentil que tento compensar com doses extras de cortesia - por vezes imerecidas -, então segurei a onda. Além do que, a noite, até ali, fora ótima!)
O sujeito estava com um amigo, a quem nos apresentou. "Meninas, este é o Valdir." "Oi, como está?" e "Muito prazer" (de todas as partes); "Vocês vêm sempre aqui?" (da parte do Valdir); "Sempre que estamos em Fortaleza" (de nossa parte), e por aí foram uns minutos de conversa fiada, do tipo que descamba para 'queropegarmulheremfimdefesta'; nesse importante momento o citado parente achou por bem esclarecer: "O apelido do Valdir é 'Valdir dos ovão', sabiam? KKKKKK, Valdir dos OVÃO, entenderam? KKKKKK!"
SW ficou branca, o sobrinho dele tornou-se dacordeburroquandofoge, e eu, roxa de raiva.
O tal Valdir tentou salvar todos do constrangimento e emendou "Eu tinha uma granja e as galinhas botavam ovos de duas gemas, por isso eram grandes", mas o bossal do parente continuou a cascata: "Que é isso, rapaz? Deixe de modéstia! Então não sei que o mulherio do seu bairro vivia correndo atrás de você, e tudo por causa dos 'ovão'?
E o sobrinho dele se remexendo na cadeira ("Deixa dessa besteira, tio!..."; e SW ficando vermelha (eu conheço a criatura: era arriscado a gente dormir no xadrez), e eu, calada (mais perigoso ainda!).
O bom caratismo do Valdir durou uns sessenta segundos - um recorde, é claro!; depois ele aderiu à marola da bestice e ficou contando vantagem (no caso, mérito das galinhas - e só um abestado sem qualquer noção se apropria de uma qualidade galinácea!).
Calmamente eu concordei: "De fato, ovos de duas gemas são mesmo grandes." ... E arrematei: "O problema com ovos de duas gemas é que o pinto é pequeno..."
(Do Valdir nunca mais soube, mas o parente agora finge que nem me conhece.)