O GAMBÁ E A JARARACA (fábula)
Perambulava o gambá pela floresta com o estômago a roncar de fome, há muito tempo sem topar pela frente presa fácil ou difícil. Cansado de perder tempo, toma uma decisão perigosa.
- Há uma toca de urso abandonada no morro dos Alces, onde se instalou um ninho de serpentes, talvez eu ache por lá uma jararaca dessas pequenas e acabe com essa fome terrível que me bambeia todo e o sol também estorica.
A coragem do gambá coisa realmente impressionante, é difícil de se achar em outros animais como o coelho por exemplo, tem uma explicação que talvez todos conheçam: confia demais no seu mau cheiro gás, arma para todas as situações reforçada com unhas e dentes pontiagudos, enfrentar um gambá era enfrentar uma fera que aparentemente encoraja mas depois, mesmo tentando sair da enrascada o bicho vê ai sim que começa uma tarefa nada fácil que ficou tarde demais pra cair fora e se dá mal e sabendo disso o gambá anda onde quer sem preocupações.
- O dia está indo embora. É bom me apressar.
Adentra a mata dos macacos, pega a trilha das formigas e tem outra idéia:
- Perto daqui existe um pasto onde numerosos preás fazem seus ninhos, vou dar uma passada por lá.
Toma novo rumo, rodeia a palmeira imperial, passa sob as samambaias do mato, pega o caminho dos caititus e quando desce a encosta dos alecrins para surpreso com o que vê, próximo a uma enorme jacarandá.
- Eu não acredito numa coisa dessas - chega a exclamar alto - mas que jararaca enorme (jararacas são muito apreciadas por gambás). Pelo que, está encerrada minha procura - e se detém pensando na melhor forma de combater o peçonhento que o vê e fica também surpreso, na verdade, radiante de alegria com a presença de uma presa (que era o gambá).
- Deve ser algum presente da mãe natureza - pensa a cobra: acabo de acordar de reparador sono e sem me mover um milímetro me surge tal qual passe de mágica gordo e, pror certo culento gambá. É eu não posso mesmo reclamar dessa vida.
E prepara-se a jararaca para mortal investida onde ela acredita que fará do gambá sua presa, com o gambá pensando exatamente o mesmo mas invertendo . Chegando os dois a travar o seguinte diálogo:
Gambá: - Prepare-se cobra, seus dias de cobra chegaram ao fim, saciará minha fome mas para tanto você terá que morrer.
Cobra: - Que conversa é essa gambá, afinal, um sol fraquinho desses já lhe afetou os miolos? Pois fique sabendo que todos têm a sua hora.
Gambá: Ah! É? Pois a sua chegou e com outra, esse velho pé de jacarandá será o seu túmulo, ou melhor dizendo, do que restar de você. 03
Embora dotados de frieza surpreendente e providencial para adquirir um bote com precisão milimétrica, aquelas últimas palavras do gambá levaram a jararaca a um perigoso acesso de cólera, tendo esta se enrolado rapidinho deferindo descontrolado ataque ao gambá. O qual saiu de lado aumentando ainda mais a fúria do peçonhento que, aliás, durou pouco. Pois o gambá lhe desfere com efeito forte dentada na cabeça, pelo que, a cobra só ficou (provavelmente) sabendo como havia morrido, já no outro mundo. Ficando o gambá sendo o único naquele banquete que dispensava convidados, já que ele era um bicho egoísta. Chegando essa história, e também a cobra, ao seu final.