QUEM TEM BOCA, QUE SE CUIDE!

QUEM TEM BOCA, QUE SE CUIDE!

(Autor: Antonio Brás Constante)

A frase: “quem diz o que quer, ouve o que não quer”, é uma mensagem que serve para nos alertar sobre os riscos advindos daquilo que falamos.

Para se ter uma idéia mais clara sobre a força da palavra, vale lembrar que dependendo de onde a pessoa está, com quem está, e o seu papel em um determinado evento, a pronúncia de um simples “sim” pode mudar toda sua vida. Claro que logo após dizer “sim” ela assina uns papéis na frente de algumas testemunhas, muitos convidados e um padre. Mas, o que acaba valendo para todos ali presentes é a tal palavrinha dita.

Quantas brigas de trânsito começam com meras palavras de desagravo, passando aos palavrões até que seus interlocutores resolvam utilizar uma linguagem mais corporal, expressada através de socos e pontapés, tentando fazer valer os seus pontos de vista.

O homem sabe do risco de falar sobre coisas que não devem ser ditas. Por exemplo, nunca mencionar que sua companheira parece ter engordado alguns quilinhos e por esse motivo o vestido não quer entrar em seu corpinho mais roliço. Ou dizer que a bela jovem que está passando na frente de vocês é realmente bela. Ou ainda que a comida feita por sua esposa, especialmente para você, ficou muito salgada. Falar de coisas assim é querer iniciar uma guerra conjugal.

A citação utilizada pelo papa na Alemanha é outro bom exemplo que se enquadra no assunto deste texto. Porém, não devemos imaginar que ele, com toda sua benevolência, iria querer ofender intencionalmente o mundo islâmico. Talvez, por ser quase um leigo em assuntos religiosos, apenas desconhecesse o impacto fulminante que tal pronunciamento causaria.

Bento XVI, em sua ânsia de unir cada vez mais os povos deste imenso globo azul, utilizou-se de uma “sutil” citação antiga, que provavelmente era empregada sem maiores problemas nos tempos da idade média. Seu único propósito era condenar os que fazem uso da violência para disseminar a fé. Mas afinal, quem de nós nunca pensou em fazer algo assim? Pronunciar uma frase polêmica, dita pela primeira vez nos tempos em que se queimavam bruxas, divulgando-a através de um discurso planejado, e em cadeia mundial para que todos pudessem ouvi-la. Tocando o dedo na ferida de uma nação de seguidores religiosos, que adora provocar feridas em quem contesta suas crenças.

Jamais iria passar pela cabeça do papa, que aquele povo tão amável que persegue chargistas por causa de alguns “desenhos profanos” de seu profeta, se enfureceria com meras e pejorativas palavras sobre Maomé, utilizadas possivelmente com o intuito de se buscar uma maior reflexão em torno da paz.

Por muito menos que isto, extremistas em povos religiosos como os mulçumanos já demonstraram que são capazes de cometer as piores atrocidades para defender os seus princípios sagrados. Agora, eles dispõem de mais um bom pretexto para saírem matando ainda mais “infiéis” em nome da sua fé. A diferença é que desta vez os alvos serão todos aqueles que ostentarem algum crucifixo junto de si.

O resultado das palavras do sumo pontífice já ecoa pelo planeta, onde a resposta dada para suas declarações veio em forma de violência e sofrimento, como seria de se esperar. Faltando apenas uma razão plausível, que explique tal atitude do papa.

Enfim, falar é muito mais do que apenas se expressar pela voz, é uma arma que se engatilha com a língua. Utilizando meros jogos de palavras, para tocar as pessoas através do balsamo da sabedoria ou da mais completa estupidez.

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Antonio Brás Constante
Enviado por Antonio Brás Constante em 23/09/2006
Código do texto: T247607