O PREFEITO INTERVENTOR

 
Através do endereço eletrônico da Prefeitura de Catalão ( http://www.catalao.go.gov.br/ ), posso mostrar aos amigos como é a minha cidade hoje em dia. O vídeo muito bem produzido utiliza dados sobre as ações recentes e o desenvolvimento recorde  experimentado pelo município, de forma bastante didática, constituindo-se em material publicitário de ótima qualidade.
 
Naturalmente que os recursos tecnológicos disponíveis e a capacidade de utilizá-los fazem a diferença, quando se trata de divulgação institucional através da mídia.
 
Mas houve um tempo em que a coleta de dados, especialmente dados históricos, só poderia ser realizada graças ao cuidado e dedicação destinados a colecionar informações dispersas, da própria memória e de um grande esforço por parte do pesquisador. Certamente foi assim que o falecido Professor Chaud nos deixou a herança de informações valiosas, que agora são importantes fontes de consulta de estudantes, permitindo-lhes melhor entenderem as características e a evolução da nossa cultura regional.
 
Em um dos livros do Professor Chaud, encontrei uma citação importante sobre minha família. Trata-se do registro de nascimento do filho primogênito do meu avô materno, ocorrido em 12 de fevereiro de 1912.
 
Com base nisto, em uma das minhas visitas à cidade, estive no Museu Cornélio Ramos onde conheci Maria Aparecida Brito Neto, que foi aluna particular da mamãe. Ela, que nos deixou em 1983, nasceu em 1920, oito anos após seu irmão mais velho. Procurei por notícias de setembro de 1926. Desejava localizar informações sobre o crime de que foi vítima o vovô Miguel Fayad, 14 anos depois de registrar seu primogênito, Aiçor Fayad. Mas esta última informação parece não existir. Fiquei de voltar ao Museu para aprofundar a pesquisa, porque pouco sei sobre isso.
 
Agora, novamente debruçada sobre os rascunhos deixados pelo papai, encontrei outro relato que merece ser confirmado pelas pessoas mais idosas de Catalão.
Trata-se de um “Prefeito”, que o papai dizia ser também tenente, interventor, gaúcho e ateu.
Conta que seu nome era Públio (?) de Souza e que “revolucionou” a cidade. Acredito que se trata de alguém enviado para por ordem ao município, justamente quando o vovô foi assassinado.
Segundo o Professor Chaud, a intervenção ocorreu, porque era uma época em que se matava por motivos fúteis e parece ter sido este o caso que eu pesquisava.
 
Papai conta que o Tenente-Interventor se levantava bem cedo, saía de casa para a Prefeitura, caminhando calmamente e tomando seu chimarrão. Ao chegar ao local de trabalho, às seis horas da manhã, chamava o fiscal, o Sr. Portugal, e dizia:
- Portugal, vi cavalos e cachorros nas ruas. Vá saber quem são os donos. Intime-os! Que venham até a Prefeitura.
Ao chegarem lá, os proprietários dos cães ouviam do Prefeito:
- O senhor deve colocar coleira no seu cachorro e pagar imposto para que ele circule pelas ruas, mas somente acompanhado.
 
Quanto aos cavalos, dizia:
- Mantenha os animais presos em currais. Não quero cavalos soltos circulando no meio do povo e sujando as ruas.
 
Determinou, ainda, que quem tivesse lote dentro da cidade deveria fazer muros, rebocá-los e pintá-los, além de construir, por sua conta, passeios públicos ao redor dos lotes.
 
Na sua gestão, o tenente edificou a cadeia,  construiu praças e jardins, canalizou o córrego Piratipinga e cascalhou as ruas.
 
Era tão exigente que proibiu até a colocação de cadeiras nas calçadas em frente às residências.
Dona Ângela, esposa do Sr. Rigueto, considerou que era um abuso essa determinação. Desobedeceu ao Prefeito, que observava a rebeldia da janela de sua casa, e a multou.
A senhora, furiosa, foi até o Gabinete da autoridade reclamar, ao que o interventor respondeu:
- Sinto muito, madame. Quem lhe multou foi a Prefeitura e eu não posso retirar a multa, senão ninguém mais vai respeitar as leis.
E Dona Ângela não teve outra alternativa, senão arcar com o prejuízo.
 
Seria interessante que, no Portal da Prefeitura de Catalão ou em outro espaço público, fosse destinado aos cidadãos um cantinho para relatos que não constam dos documentos oficiais, como forma de recuperarmos mais um pouco da memória da nossa cidade, tão próspera e tão bela.

Obs.: No dia 20 de agosto de 2010, Catalão comemorou seus 151 anos de fundação.
Sandra Fayad Bsb
Enviado por Sandra Fayad Bsb em 21/08/2010
Reeditado em 16/02/2018
Código do texto: T2451140
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