"NÃO VOU DE TAXI!"

A ideia da presente crônica me chegou a esta página no momento em que ontem eu presenciava uma cena de televisão que envolvia um táxi e seus passageiros.

"Como nos é difícil lidar com gente!", eu concluía em pensamento, e com certeza os taxistas devem sofrer muito com certos passageiros pra lá de chatos!

Porém, o contrário também existe e eu lhes provarei aqui.

A encenação da televisão então me remeteu há mais ou menos dez anos atrás, quando certa vez eu voltava da paradisíaca Porto Seguro com duas crianças, e naquela confusão de chegada de aeroporto, que aliás só piorou nos últimos tempos, após pegar as bagagens em Congonhas, eu sinalizei para um táxi, num ponto errado.

Ele parou, abriu a janela e me sentenciou:"se quiser embarcar vá para o lugar certo!".

Fomos!

Bem, arrastando as bagagens e as crianças, uma de cada lado,andei alguns metros, pedi desculpas ao taxista, ele me assentiu sisudamente, desceu do seu carro e me perguntou:"pra que tanta mala?".

Achei aquela pergunta estranha, dirigida a um cliente, principalmente por tratar-se de pequenas malas, embora houvesse alguns berimbaus desses que minhas crianças bateram os pés para carregá-los no avião.

Devolvi-lhe uma resposta em sorriso, achei mais conveniente não me prolongar no assunto.

Entramos no automóvel e logo li um recado um tanto esquisito:" coloque os cintos, não coloque os pés no banco, não fume, desligue o celular, não estrague as revistas e tenha troco!"

Percebi nitidamente que a expressão do motorista assustava as crianças.

"Vem donde?" me perguntou laconicamente.

"De porto Seguro!", respondi animadamente, tentando "quebrar o gelo".

Não adiantou.

"Com tanta praia bonita por aqui...não sei porque vocês têm que ir tão longe!"

Não acreditei!

Bom, segui bem quieta , às vezes falando do tempo, torcendo para chegar logo ao nosso destino.

Foi quando uma das crianças me disse baixinho:"ai , estou passando mal",

"Fala mais baixo!," lhe implorei.

Tomei o cuidado para que o taxista não a ouvisse e tratei de abrir a janela".

"Tá bem assim?"

Lá pras tantas, quase chegando em casa, Dudu exclamou, sob uma palidez assustadora:"Ai, acho que vou vomitar..."

De súbito , o taxista frenou na avenida movimentada , tão de repente que senti o sinto de segurança travar.

"Ai, agora é que vou vomitar mesmo..."

"Ô seu maluco", alguém gritou- frente àquela frenada negligente- "não olha para o que faz, não? "- um outro alguém emendou.

"Aqui você não vai vomitar, não vai mesmo!", exclamou o gentil motorista.

Então, abriu a porta de trás no meio da avenida, pegou um saco plástico, uma toalha, e sacou o garoto do carro, como quem corria para salvar o pai da forca.

O menino, mais assutado do que nunca, esvaziou o estômago no saquinho, e o taxista, muito contrariado, nos liberou para seguirmos viagem naquele seu impecável automóvel.

"Vê se se segura",advertiu o condutor ao Dudu.

"Não sei porque vocês comem no avião" disse-me ele com ares de censura...

Chegado o nosso destino, tratou de nos tirar do carro, bem apressadamente.

Eu paguei-lhe até o último tostão com "trocadinhos", nem um centavo a mais, e me desculpei pelo inconveniente.

"Crianças e estômagos são imprevisíveis" comtemporizei...

De lá para cá, toda vez que tomo táxi lá em Congonhas, me certifico para que o mesmo raio não caia novamente sobre nossas cabeças!

E as crianças...bem, já cresceram! Não querem mais berimbaus.

Ufa, com é difícil lidar com gente...grande.

verídico.

Ah sim , eu pergunto, e por quê a gente toma táxi, hein?