Dona Isaura odeia ir ao médico.
Esta tarde Dona Isaura foi ao médico. Relatou minuciosamente os seus sintomas, esperando assim facilitar o diagnóstico.
O doutor empenhou-se em examiná-la: auscultou, mediu a pressão, fez várias perguntas, a mediu, pesou, analisou seu rosto e anotou tudo no prontuário da paciente que ele conhece há anos.
Após quase uma hora de consulta, dona Isaura, 89 anos, pergunta ao Doutor:
_ E agora o senhor pode me dizer o que eu tenho?
_ Por enquanto não, Dona Isaura. Vou pedir três exames além dos de rotina, uma ultrassonografia e dois exames de ultima geração.
A senhorinha que a essa altura já se tornara impaciente olhou bem pro médico e o desafiou:
_ Doutor, quando eu era criança, os médicos pediam pra gente falar 33, e mostrar a língua e pronto: davam o diagnóstico.
_ É que naquela época, dona Isaura, o mapa da sua língua era legível, mas agora, sabe como é: está meio apagado. Só com exames de laboratório é possível fazer um bom diagnóstico. E deu um sorrisinho que dona Isaura considerou maroto.
Dona Isaura não achou graça nenhuma e lascou outra:
_ Para os jovens os médicos também pedem um monte de exames e a língua é nova.
_ Não tão nova, dona Isaura, não tão nova. Os jovens bebem muita coca, fumam e corroem o mapa.
Dona Isaura com uma das mãos na cintura não se dá por vencida:
_ Ta, ta bom; e para crianças de colo, Doutor? O senhor daria o diagnóstico só olhando a língua?
_Ah, dona Isaura, não é assim tão simples. Sabe, vou lhe contar um segredo: a maioria das crianças tem nascido com o mapa meio apagadinho, sabe? Deve ser a poluição!
Dona Isaura balançou a cabeça de um lado pro outro e, calada agarrou a sua bengala. Pensou melhor, e resolveu deixar a sala do médico levando todos os seus papéis. Antes de fechar a porta tornou a olhar para o Doutor e desabafou:
_ Mas que merrrrrrrda!
E o Doutor:
_ Dona Isaura, olha a língua!
Ela saiu resmungando: 