PEDIDO DE DIVÓRCIO
Lara: Ontem recebi pelo correio
O teu pedido de divórcio
E sei que por breves instantes
Senti a vontade de rasgar
Aqueles perdidos anéis papiros
Que ao assinar romperiam
A nossa aliança.
Wilde: Esse correio português
Consegue ser pior que o brasileiro
Aqui já demitimos o seu presidente
E o daí devemos mandá-lo pra cadeia.
Acho que com o advento da internet
De tanto coçar a virilha (leia-se saco)
Ele anda produzindo cartas apócrifas
E tadinho do Gabriel ali pendurado
No precipício prestes a ser dizimado
Lara: As tuas palavras amargas
e sem esperança
Deixaram-me num incontido pranto
Gritei…Gritei...Gritei...
Wilde: Gritou à toa! Se esgoelou...
Porque deve ter a voz boa
Ou dramatizou o que entoou
Teu pranto causou-me espanto
Lara: Mas ainda assim
Não recuaste, nem me ouviste
E de mim partiste.
Wilde: Não tenho saído de casa
Nem para ir ali à esquina
Gripado debaixo das cobertas
Com o telefone da funerária ao lado...
Lara: Perguntei-me
Onde ficou perdido
O meu rasgado sorriso encanto.
Wilde: Teu riso está em tua boca
Eu é que estou aqui de tôca
Deixa de ‘xurumelas’ loucas rs.
Lara: Esperneei, lembrando criança mimada
Quase afogada num dilúvio de lágrimas
Mas depois do desabafo
Tudo parecia menos turvo... menos baço
à minha frente.
Wilde: Ainda bem que encontrou a saída
Pelas vias da poesia... Sem barbitúricos
Mas me assustou com esse teu gênio
Que deve ter azedado o leite dos teus seios
E virado coalhada e golfada na boca do Gabriel
Agora limpa as fraldas do coitado. Rsrsrs
Lara: Por breves instantes
Rebobinei os bons momentos
Que juntos vivemos
Mas já nada era como era dantes
Questionei se terias outra…outras
Wilde: Olha... Agora sou eu que desconfiei
Vamos ter que fazer DNA do Gabriel
Porque desconfio que algum português
Sorrateiro comeu no meu canteiro
E já sinto os chifres queimando-me por inteiro
Lara: Fui assaltada pelo ciúme
Sobressaltada pesadelo
Pelo medo de te perder de vez
E sei que entre nós
ainda há muita mágoa e queixume…
Wilde: Ciúme é pura besteira
Você sabe que poeta não tem fronteira
A língua portuguesa é a sua pátria
Ou não foi Fernando Pessoa
Que nos ensinou essa máxima?
Lara: Hoje dei por mim
Completamente absorvida
Distraída pela água a ferver lume
Para o café...
Wilde: Esse ‘dei por mim’
Quer dizer que você deu... Né?
Confissão publica de ter- me’ corneado’.
Quem foi esse assanhado?
Lara: Lume…Ciúme…Lume
Wilde: Queixume... Costume... Resume!
Lara: Ciúme… sem lume
Wilde: É pior que enxame
Lara: E sem ti...
Wilde: Bem te vi
Lara: Senti-me sereia
Dentro de água fervida
Wilde: Cuidado com esse rabo rs.
É melhor que a água daqui que tá gelada
Lara: Sem vida
Por dentro toda queimada
E consumida
Wilde: Aqui querida
Entendo que ‘o inferno’
Não é feito de brasas
Mas de geadas...
Lara: E dentro de água
Sentia perder-te e perdi o pé
Barco perdido sem rumo
E sem maré.
Wilde: Sorte sua ainda ter água
Devia fazer um duto pra regar
As tulipas que te mandei
Assim agradará aos teus próprios olhos
Lara: Fechei então os olhos
Numa desesperada tentativa
De prender os bons momentos
Wilde: Isso é um bom artifício
Que não causa malefício
Segurar o que for bom no sentimento
Lara: Que vivemos a dois
De te reter no meu pensamento
Os nossos desejos clandestinos
Wilde: Olha! Terei que repensar tudo isso
Senti-me traído pelas costas...
Aqui sofrido e inocente.
Lara diz: Wilde:
O filho que juntos planejávamos
Depois que nos amávamos
Como se fosse a primeira e a derradeira vez.
Wilde: Olha isso aí é complicado...
Envolve o Espírito Santo
Que eu muito respeito
E o Gabriel aquele anjo ‘safado’
Que mesmo anjo nunca deixou de ser
Meio danado rsrsrs.
Lara: Abri os olhos
Fixando-me agora no lume, na chama
Como que se ali encontrasse as respostas
Wilde: Não basta abrir os olhos
Tem que enxergar com o coração
Fora desse teu padrão
Lara: Que precisava para reacender, em nós
O lume amor
E em toda a parte
Wilde: Se tiver faísca aí
Por favor acenda a lareira aqui
Que o frio tá de lascar...
Lara: Ainda sinto resquícios de ti
Do teu perfume
Do teu gel odor
Acabado de sair de um banho de carícias.
Wilde: Amor pra ser amor não se faz de resquícios
O perfume está impregnado nas narinas
Ele está no cheiro das flores, nas águas do mar
Lara diz: Wilde
Não partas
Não me deixes
Wilde diz: Parece aquele filme
‘A volta dos que não foram...
Lara: Não deixes este coração triste
Sem luar, sem estrelas e sem céu.
Wilde: Estou e estarei sempre aqui
Ao serviço da poesia e sua magia...
Continue a alimentar tuas fantasias.
E nem vou reler as respostas que te dei
Senão, com certeza, não te mandarei.
Ufa! Parece que respondi tudinho.
Mas não me apronte outra dessas
Que não terá repeteco porque
Jogar peteca pelo atlântico... É FODA!
Duo: Lara e Wilde