AS TRIPAS DA ENEIDE

Contam os locutores de rádio já aposentados de minha cidade que esse fato realmente aconteceu. Da minha parte quero crer que tudo não passe de mais um causo criado por uma fértil imaginação.

Vamos aos fatos.

Na década de 70, uma senhora que morava no interior (sítio), tinha que fazer uma cirurgia de vesícula, mas dependia da vontade do médico ou das condições físicas da mesma.

Naquele tempo, era costume do pessoal que residia em sítios, matar porcos para ter carne para o sustento. E como não existia energia elétrica, fazia muito salame para conservar a carne.

O salame pra quem não sabe, é (ou era) embalado em tripas de suínos que passavam por um processo de higiene rigoroso e vendida em casas especializadas.

Com o porco passando do tempo de ser carneado, mas sem as ditas tripas, a família combinou o seguinte: quando a esposa fosse para cidade marcar a cirurgia, ela aproveitava para comprar o produto com a seguinte condição: se a cirurgia fosse novamente adiada, ela voltaria à tarde com o mesmo ônibus e com o produto.

Se o médico marcasse cirurgia para aquela tarde ou dia seguinte, ela entregaria as tripas para o motorista do ônibus que se encarregaria de deixá-las em um ponto previamente combinado mediante um aviso e o marido iria buscá-las.

A cirurgia foi marcada para o final daquela tarde e a esposa tomou as providências.

Também é comum ainda hoje funcionários das emissoras de rádio solicitarem aos hospitais os recados que os pacientes querem enviar aos seus parentes gratuitamente. Exemplo: “Maria avisa que deu à luz a uma linda menina. Mãe e filha passam bem e devem ter alta depois de amanhã”.

E o anúncio da senhora dessa história saiu assim:

“Atenção senhor João dos Santos morador na comunidade do Rio Pequeno: sua esposa Eneide será operada à tarde. As tripas seguem pelo ônibus”.

Claro que para a família estava tudo explicado, mas para quem ouviu o anúncio e não sabia dos fatos...!