O titanic Potiguar. Era uma vez...
Antes que alguém me pergunte, eu lhe asseguro que essa não é história de pescador. Onde trabalho, sempre estamos a rir de nossas mancadas , nossas bolas foras e já estamos pensando em escrever um livro de humor, haja vista a quantidade soberba de acontecimentos hilários em nossa empresa e em nossas vidas pessoais. Porém de todas, uma é a “Best seller”, é a ”number one” em nossas rodas de amigos e aqui resolvi adiantar pra vocês em primeira mão.
Certa vez o nosso amigo “Leonardo di Caprio” (vou chamá-lo assim, pois não sou doido de dizer o nome verdadeiro dele, haja vista que ele nem sabe que vou contar pra vocês e depois poderia me processar por isso, e eu não tô com muita grana pra pagar advogado não) resolveu junto com um amigo construir um barco aqui em Natal. Isso lá por volta da década de 60. Pois bem, colocaram a mão na massa. Foram até o bairro da Ribeira, alugaram uma casa-galpão a beira do Rio Potengi e lá começaram a realizar o maravilhoso sonho de ter um grande barco.
Pacientemente e feliz, Leonardo e seu amigo diariamente erguia o tal barco e todos os dias um menino morador das redondezas ficara olhando com ar introspectivo a tal construção. Leonardo sempre percebia o tal garoto, mas não lhe dava muita atenção.
Depois de alguns meses e praticamente finalizado o tal barco, Leonardo se vira para o garoto curioso e lhe pergunta:
- Menino! Você não tem o que fazer não? Por que todo dia você vem pra cá e fica com esse olhar de espanto pra gente? Nunca viu um barco não?
O garoto com sua simplicidade e até ingenuidade retruca:
- Eu já vi barco sim... Agora só queria fazer uma pergunta:
- Como o senhor vai tirar esse barco daqui de dentro?
(De repente um silêncio ensurdecedor recai imperativo no galpão e um calafrio toma conta de Leonardo e seu amigo. Começaram a olhar vagarosamente de canto a canto do galpão e nada além de uma simples porta, que mal cabia duas pessoas ao mesmo tempo, para a retirada do barco).
Os amigos se entre olham e bate o desespero... e agora? Perguntam eles.
Só chamando a dona do galpão, dona Mariquinha, e pedindo sua autorização para derrubar a parede ou em última instância a retirar do telhado. Entretanto, dona Mariquinha se tornara irredutível, não tinha dinheiro algum que derrubasse parede ou retirasse o telhado, haja vista que esse galpão era uma relíquia de sua amável avó que lhe dera antes de ir dessa pra melhor. Porém, depois de muitos dias de chororô, implorações diversas, até de joelhos, eis que surge uma luz. Dona Mariquinha havia cedido, autorizou a retirada do telhado na condição de trocar toda a madeira e todas as telhas de lá por outras novinhas em folha.
Compromisso firmado, Leonardo e seu amigo só não ficaram mais felizes, pois depois de calcular o gasto desse prejuízo, descobriram que gastariam mais na troca da madeira e das telhas do que gastaram no próprio barco. Mas, lamentações à parte, assim fizeram. Retiraram o telhado, alugaram um guindaste e lá estava o barco pronto para zarpar e sua primeira viagem comemorativa pelo tal feito.
Leonardo e seu amigo partiram para sua primeira viagem, acenaram para amigos e familiares orgulhosos de tamanho feito. Corações palpitando, champagnes, refrigerantes, tortas, comidas e muita festa. Porém, um vacilo do amigo de Leonardo fora crucial para o que viria a seguir. Esquecera de fechar uma tubulação na casa de máquina e alguns metros após a saída do porto, lá estava o barco à deriva, sendo invadido pelas águas e para finalizar o tormento, batera adiante na pedra do rosário. Lá se foi por água abaixo não só barco, mas o sonho de Leonardo de se tornar um descobridor dos mares, um professor pardal. O lado bom dessa tragédia é que saíram vivos dessa história, pois pescadores que passavam pelo local os acolheram.
E assim, terminou a saga do Titanic Potiguar no fundo mar. E por mais que você não acredite nessa história, o próprio Leonardo já nos contou centenas de vezes aqui no trabalho. Deve ser por ter ficado traumatizado, ou por uma questão de desabafo eterno. E por não ter tido a coragem de assistir o filme Titanic, por não querer saber mais de barco na sua vida. Não nos deixa dúvida que essa história foi verídica, pois até hoje 40 anos depois, Leonardo ainda reclama do dinheiro perdido, que literalmente afundou. Seja com o barco ou com o telhado trocado de dona Mariquinha. Isso que é morrer na praia. Ai se o menino do galpão tivesse sido escutado antes.