CONSCIÊNCIA PESADA
CONSCIÊNCIA PESADA
O casamento da irmã do meu melhor amigo seria no dia seguinte, e eu fui convidado, ou melhor, fui intimado a comparecer. Afinal, nos criamos todos juntos! Como moro numa cidade distante da dele, fui um dia antes e pernoitei em sua casa. Disseram-me que ele estava em viagem de trabalho, de maneira que decidi ler um livro e aguardar seu retorno. Eram já altas horas da madrugada quando ele chegou, e eu vi logo que não viera de trabalho algum, o safado. Tivemos uma conversa rápida e ele foi logo dormir após minhas recomendações de que tirasse o batom das bochechas. O dia seguinte seria muito longo.
Acordamos cedo e após um café nervoso, fomos todos para a igreja, num único carro. Ele, sua esposa, sua filha, sua sogra e eu. A igreja era num pequeno distrito campestre da cidade. No caminho, fomos conversando trivialidades, até que meu amigo percebeu um par de sapatos femininos entre seus pés. Ele me cutucou quase em pânico, me mostrando o achado. “Um troféu da noitada anterior” – pensei. Através de gestos dissimulados, percebi que ele queria que eu desse um fim naquilo. Decidi faze-lo em etapas, para ajudar meu amigo e salvar o dia de todos nós. Primeiro, deixei cair um CD de áudio próximo dos tais sapatos, e ao ajuntá-la, os trouxe também para o piso do meu lado. Depois, quando passávamos por um pequeno bosque, apontei eufórico para um pequeno pássaro que estava pousado nos fios de energia, do outro lado da estrada, e, quando todos olharam para o bicho, joguei os sapatos pela janela. Sucesso! Meu amigo respirou aliviado!
O resto do passeio transcorreu sem percalços. Quando chegamos, fomos logo á capela, onde já estava a maioria dos convidados. De repente, disse a esposa do meu amigo:
- Onde está a mamãe?
Então a sogra do meu amigo entrou na capela com cara de poucos amigos, pés descalços, e cochichou ao ouvido da filha:
- Você sabe que fim levou meus sapatos que eu descalcei no carro para descansar os pés?