AMADEU CARECA
Dois amigos conversavam no Parque Municipal de Belô, próximo ao lago onde crianças passeavam nos barquinhos a remo, acompanhadas dos papais zelosos. Era um domingo bonito, ensolarado e o logradouro estava apinhado de gente em busca do lazer. Uma banda de música animava o ambiente, executando belos dobrados.
Nisso, passou um careca afobado, gordo e luzidio. Acercou-se da grade de proteção do lago e se pôs a jogar migalhas de pão às carpas enormes e comilonas, as quais até brigavam entre si na disputa da comida.
Um dos amigos propôs ao outro:-
“- Cara, pago vinte reais se você der um tapa na cabeça daquele careca ali, olha!”
O sujeito não pestanejou, foi lá e lascou um tapão bem no meio da careca do gordo, o qual se virou já pronto para a briga. Mas o malandro, espertamente, abraçou-o dizendo:-
“- Grande Amadeu, como está você, amigo velho?”
“- Que Amadeu merda nenhuma, sujeito! Vê se me erra, cara! ...” – e deu-lhe um empurrão, afastando-se.
O nosso amigo foi ao cidadão que fez a aposta, embolsou seus vinte reais e o outro mais que depressa lançou novo desafio:-
“- Olha aí, pago cinquenta reais se você for lá e der outro tapa no careca!”
“- Ah, velho, aí é fogo, né? O cara já tá meio desconfiado. Mas você paga mesmo cinquentinha?... Então eu topo.”
O gordo já estava em outro ponto mais afastado, à beira do lago. E continuava tentando agradar os peixes, jogando-lhes miolo de pão, sempre cercado por várias crianças. O malandro veio de lá, aproximou-se por detrás e estralou outro tapa na cabeçorra do infeliz. Quando ele se virou, vermelho e chispando fogo pelas ventas, ele sorriu, abraçou-o forte e arrematou:-
“- Amadeu, meu prezado, que bom encontrá-lo de novo! ...”
“- Porra, eu já disse que meu nome não é Amadeu, seu bosta! Eu vou matar você! ...”
O pilantra se escafedeu, correndo pra junto do seu amigo que ria às escâncaras, de longe, próximo a um carrinho de pipocas. Acercou-se e o mentor da brincadeira propôs mais uma abordagem, mas o malandro refutou:-
“- Você está doido, meu irmão? O cara agora me mata! Tou fora! ...”
“- Cara, eu lhe pago cem reais por mais um tapa. Cem reais! É pegar ou largar.” E passava a pelega na frente da cara do golpista.
Aí o pilantra se ajeitou, respirou fundo e partiu atrás do gordo careca que já se distanciava, fulo da vida, em direção à saída do parque. Ele veio rápido por trás, como sempre e desferiu o maior tapão na calva do sujeito, vermelhona que nem tomate maduro. Quando o gordo se virou, possesso, ele o abraçou com força e gritou:-
“- Amadeu, meu querido, eu já acertei dois caras aí pensando que fosse você, meu irmão! ...”
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B.Hte., 21/07/10