Xingando com a Regência apropriada
Dia 26/06/10 – 03h17min
Parece mesmo que fico mais inspirado a essa hora da madrugada. Pelo visto, fiz um bom investimento. Agora posso sentar e escrever sempre que der na telha. Andei pensando (literalmente, já que andei do Centro de Caxias até em casa, após ter parado em um bairro vizinho para fazer um lanche) em como seria interessante se todos nos perguntássemos sempre, ou ao menos com mais freqüência, o porquê de certas coisas serem como são. Por exemplo, um xingamento. “Vai tomar no cú”. Além de ser muito medíocre e baixo, (como não poderia deixar de ser, afinal ao mandar a pessoa “tomar no cú” você está, no mínimo, querendo ofendê-la em algum sentido, pois, se for um homem, constrangê-lo-á a praticar sexo com uma de suas partes pudentas mais sensíveis e inóspitas, o que vai, além do mais, gerar preconceitos advindos da nação heterossexual que acompanhar o indivíduo envolvido na trama, e, se for mulher, correrá o risco de a donzela nunca ter compartilhado a dor das mais antigas profissionais desde os tempos das cavernas, causando, dessa forma, uma ofensiva falta de romantismo contemporâneo pós-modernista, o que não quer dizer absolutamente nada nos dias de hoje), é um desacato à norma culta da nossa tão famosa e difundida língua portuguesa.
Isso por que alguns verbos provocam dúvidas de regência já que seu uso popular, tão grandemente utilizado, está em desacordo com a norma culta. Se estes possuírem mais de um sentido, então, possuirão mais de uma regência. No exemplo acima citado, utiliza-se o verbo ir de forma imperativa dando a entender movimento e locomoção. Na linguagem formal culta, deve-se empregar a preposição a, se utilizarmos o verbo com o sentido de “dirigir-se sem a intenção de permanecer”; no sentido de “dirigir-se com a intenção de permanecer”, deve-se empregar a preposição para.
Se eu sou morador de Caxias, digo que moro em Caxias. Só uso a preposição em por que o verbo morar pede esse tipo de regência. Quando eu digo: “vai tomar no cú”, estou juntando a preposição em com o artigo definido masculino o, causando a preposição no. Mas, na verdade, de acordo com a regência, o verbo ir exige a preposição a ou para, de acordo com a intenção, para que fique correto.
Isto posto, quero crer que todos tenham entendido a questão e que, na hora de xingar alguém, pense na intenção real do que está falando, já que se você quiser que a pessoa fique tomando no cú para o resto da vida, falará: “vai tomar para o cú”; se desejar que ela apenas tome no cú, mas que volte em breve, embora fodida, diga: “vai tomar ao cú”.