Nascido em Várzea alegre, no sertão cearense, o escritor Antônio Vieira se notabilizou como o Padre do Jumento. O título de um dos seus vários livros, “O Jumento é Nosso Irmão”, foi popularizado na voz inconfundível do grande Luiz Gonzaga:
 
                  É verdade, meu senhor
                  Essa estória do sertão
                  Padre Vieira falou
                  Que o jumento é nosso irmão.
 
         No mês de outubro, na comemoração do aniversário do município de Várzea Alegre, várias competições esportivas acontecem na cidade, entre as quais a corrida dos jumentos, a mais esperada de todas.
 
         Na semana do município da década de 1980 vários competidores prepararam seus animais para a difícil disputa. Francisco, jovem conhecido por sua missão diária de transportar leite do sítio Sanharol para Várzea Alegre, era considerado o favorito da competição. Com seu jumento, forte e bem treinado, o simpático rapaz circulava diariamente pelas ruas da cidade, distribuindo nas residências o precioso líquido branco. Tanto que até hoje, mesmo não mais cumprindo importante tarefa, Francisco ainda é chamado por Tico do Leite.
 
         No dia da corrida Valentin, Filhin, Roberto, Tico do Leite, Neguin do Gibão e outros rapazes, montados em seus animais, se emparelharam na linha de largada em frente à casa de Seu Joaquim Diniz, no centro da cidade. Iniciada a disputa, como previsto, o jumento montado por Tico do Leite disparou na frente, já subindo a Rua dos Perus com grande vantagem sobre os demais.
 
          A corrida continuou com Tico de Leite e seu rápido jumento cada vez mais na dianteira. No final do percurso, Neguin do Gibão subiu a ladeira da Rua Doutor Leandro e recebeu a bandeirada já conformado com o segundo lugar, mas, para sua supresa, descobriu que ganhara a corrida. Tico do Leite chegou apenas em último lugar. Com muita raiva, puxando com força seu jumento pelo cabresto, o favorito reclamou:
 
          - Esse bicho vinha numa carreira danada na frente. Na Rua do Juazeiro desviou o camin e pegou o beco de dona Ritinha no rumo do Sanharol, como faz todo dia. Ele achava que nós tava era entregando o leite.
 
 
Colaboração: Klébia Fiúza.
(imagem Google)