Certa manhã, Raimundo Alves Bezerra, popularmente conhecido como João Sem Braço, montado em um velho e manso cavalo, saiu do sítio Gibão para vender uns capotes* na feira do sábado da sede do município de Várzea Alegre.
 
         Ao chegar à pequena cidade do interior cearense, em vez de buscar negociar as aves, João Sem Braço se meteu a beber cachaça no interior do mercado. Ali passou o dia jogando conversa fora, contando lorotas e tomando doses da aguardente Ypióca.
 
         Já no final da tarde, com dificuldade montou no cavalo e se dirigiu de volta ao sítio Gibão, levando todos os capotes pendurados à cela. Na saída da cidade, próximo ao Sanhorol, o cavalo seguia trotando normalmente quando se assustou, freou bruscamente e jogou João Sem Braço no chão de terra batida da estrada. O comerciante Buzuga, que por ali passava de bicicleta e viu a desajeitada queda, aproximou-se, e acudiu o embriagado cavaleiro:
 
        - Eita queda feia Negão!  Você tá bem? Tá zonzo?
 
        Bastante atordoado, mas tentando demonstrar que estava em perfeitas condições, João, com voz trôpega, disse:
 
        - Tou sim Zé de Lula, pela graça de meu São Francisco do Juazeiro e do Padin Cíço do Canindé. Mas num venho mais nunca na rua de capote para vender cavalo.
 

Colaboração: Regis Teixeira Leandro

* ave introduzida no Brasil pelos colonizadores portugueses, também conhecida como Galinha de Angola, Pitada, Picote, Guiné e Galinha do Mato.