O VÉIO DORMINHOCO JOGADOR DE TRUCO

Todo sábado havia rodada de truco na casa do velho Belarmino. Os filhos, genros, netos e noras se reuniam e as rodadas eram regadas a vários litros de pinga, as mulheres ficavam na cozinha fazendo os tira-gostos: vaca atolada, pé de porco, miúdos de frango... Belarmino conhecia todas as manhas do truco: seguia o baralho, trucava em falso, dava sinal ao parceiro, subia na mesa e berrava como um cabrito, quando tinha um zape.

Ultimamente já não estava mais com aquela bola toda: tinha uns lapsos de memória, cochilava, reclamava de dores lombares, reumatismo...

Certa noite, durante uma acirrada disputa com uma dupla tinhosa, ele após dar varias “pescadas” cochilando, “apagou” com as cartas na mão. Um dos filhos, moleque de primeira linha cochichou com os parceiros:

-Vamos apagar o lampião e fingir que estamos jogando...

Assim foi feito, apagaram o lampião e a sala ficou totalmente às escuras e eles continuaram o “jogo” gritando e berrando:

-Eu é que sou pé! O outro respondia também gritando:

-Que nada eu é que sou!

-Toma seis, ladrão!

Um dos jogadores deu um murro na mesa e berrou:

-Epa! Cê tá roubando!

O velho acordou assustado e ouvindo a gritaria dos jogadores naquela escuridão tenebrosa, gritou assustado:

-Me acode meninos, me leva pra cama, minha vista escureceu!

* * *

HERCULANO VANDERLI DE SOUSA
Enviado por HERCULANO VANDERLI DE SOUSA em 31/05/2010
Código do texto: T2290494