O ator fanhoso
Na porta do teatro o fanhoso chega para o produtor de peça e pede um papel.
- Diretor, eu sou ator, preciso trabalhar, arranja um papel pra mim nessa peça.
E observa o perfil do candidato de cima a baixo e fala:
- Voce é ator, mesmo? Fale-me um pouco sobre seus trabalhos.
Ele estranhou a voz do candidato e pensando que ele estava brincando, fazendo impostação, queria ouvir melhor. E confirmou que, de fato, ele era mesmo fanhoso. “Fanhoso!... Como ocupar uma pessoa fanhosa, quando no teatro, a voz é o mais importante?!... Pensou, pensou.....e olhando para o fanhoso, sem querer melindrá-lo, colocando as duas mãos no ombro do homem, emendou:
- Olha, no momento a peça já está com seu elenco todo formado....mas... fica tranqüilo que, quando houver uma nova peça eu vou arranjar um papel pra você. Eu te aviso.
E todo dia lá estava ele na porta do teatro. Quando via o diretor lá vinha ele com a famosa pergunta:
- E aí meu diretor, cadê meu papel....?
- Ainda não tenho nada, mas vou arranjar, fique tranqüilo- era sempre a resposta.
Finalmente um dia ele avisa:
- Aí, já tenho um papel pra você.
- Que legal, caramba!..., finalmente...obrigado. Mas, cadê meu o script? Tenho de decorar.....ensaiar, treinar a voz, colocação, impostação...
E o diretor:
- É muito simples.Sua fala é somente dizer: EU SOU O MÉDICO! Só isso..
- Só Isso? Caramba..- olhando para o diretor com cara de espanto!
- Agora tem o seguinte.. – diz o diretor - ás vinte e um horas aqui no teatro, e não vai faltar. Olha o compromisso... teatro e coisa séria!
- Pode deixar que comigo não tem erro – retrucou o fanhoso. Eu sou pontual com meus compromissos.
E foi pra casa, todo contente, ensaiando o “texto”: eu sou o médico..., eu sou o médico...
Nem bem o sol se escondia no horizonte, já às dezoito horas, andando de um lado para o outro em frente ao teatro, lá estava o fanhoso repetindo sua fala; Eu sou o médico...”
Às vinte e um horas começa a peça. O teatro lotado, coisa rara, mas estava.
O primeiro ato se desenrola normalmente. Nervoso o fanhoso nas cochias, caminha de um lado para o outro, esperando sua vez de entrar em cena.
- É agora, meu diretor?....- pergunta.
- Não, agüenta aí que quando chegar a hora eu te aviso.
E termina o primeiro ato. Começa o segundo ato e ele insistindo:
- É agora, seu diretor?
- Calma rapaz, quando chegar tua vez eu aviso.
Termina o segundo ato e começa o terceiro.
Quando já está para terminar a peça o diretor fala pra ele:
- É agora, entra.....é tua vez! – e empurra o fanhoso para o palco
Adentrando o palco, eis a cena que ele encontra: um homem, que jaz sobre uma cama, a esposa ajoelhada sobre o corpo e os filhos em redor, todos chorando.
Ele entra e fala:
- Eu sou o médico!!!!
Ao que a mulher, olhando com cara de desaprovação, responde:
- Agora não adianta mais, meu marido já está morto....
Desesperado o famhoso se desculpa:
- Olha a culpa não é minha, não. Eu estou desde o primeiro ato querendo entrar, mas aquele filho da puta do diretor lá atrás não me deixava entrar.... a culpa é dele...