Um dia chegou às minhas mãos um livro explicando a origem dos nomes próprios. Em uma ação automática, fui logo à letra “F” e descobri que Flávio, de origem latina, significava da “cor do ouro”. Embora com o cabelo preto que nem “a asa da graúna*”, não posso negar que gostei dessa qualidade aurífera do meu nome.
Anos antes, na década de setenta, em férias por Fortaleza, assisti na TV preto e branco da minha avó Maria Amélia ao programa do Jornalista Flávio Cavalcante. Lembro que ele, encerrando cada trecho do programa, chamava a propaganda levantando o dedo indicador e falando firmemente:
- Nossos comerciais, por favor.
Eu era ainda menino e naquele primeiro momento não gostei do apresentador. Achei aquele homem antipático e arrogante. Numa humilhante atitude, ele quebrava e jogava no lixo o disco diante do cantor convidado ao programa. Imaginei logo que meu nome fosse alguma homenagem ou referência àquele presunçoso jornalista e apresentador de TV.
Quando retornei a Várzea Alegre, no sertão cearense, abordei meu pai e perguntei:
- Papai, o senhor escolheu meu nome por causa do apresentador Flávio Cavalcante?
Meu querido pai acabava chegar da sua budega. Depois de um dia inteiro de balcão, ele, calçando sua confortável chinela japonesa, me olhou e disse:
- Meu fi, quando você nasceu aqui não tinha nem energia elétrica direito, quanto mais televisão. É que, depois de Tereza Amélia, a gente resolveu dar aos filhos nomes com a letra “F”: Fernando, Flávio e Flaviana. Você não vê que até o cachorro de vocês se chama Flay.
* Ave típica do nordeste brasileiro usada em alegoria do escritor cearense José de Alencar para explicar a cor negra dos cabelos de sua personagem Iracema.
(imagem Google)