Caixão de Paco-paco
Paco-paco, vereador da cidade de Piripiri (PI), nunca deixou de favorecer com um caixão de defunto quem chegasse á sua porta com cara de choro e alegando falecimento de ente querido.Para isso, mantinha, anexo ao seu quarto de dormir, uma depósito com urnas funerárias dos mais diversos tamanhos porque, segundo ele, ninguém sabe quem vai morrer, se é adulto, criança ou anão, aliás, coisa difícil de acontecer.
Conhecedor desta particularidade e estando mais liso do que os pratos da banda do maestro Perninha, Zé Preto, eleitor aproveitador dos dois lados da política local, chegou á residência do edil com uma cara de choro que só aumentava a feitura de sua lata. Entre soluços e lágrimas alegava o falecimento de sua pranteada mãe, que Deus a tenha, deixando ele órfão de pai e mãe, já que o pai ele nunca soube quem era.
O vereador pegou um molho de chaves, abriu a porta contígua e entrou no quarto ao lado chamando o eleitor para ver o tamanho do caixão. Que visse bem porque depois não queria ver eleitora dele, defuntada e com os bicos dos sapatos do lado de fora.
Acertado qual o modelo (ele preferiu um roxo)o solicitante saiu, ainda chorando, com o caixão na cabeça.
O plano do eleitor era faturar alguma grana com a notícia da morte da mãe mas o vereador não deu nem o dinheiro das velas.Só o caixão. Caixão que o Zé Preto andou oferecendo aos vizinhos e a quem via. Ninguém quís comprar o caixão e a mãe ainda lhe deu uma baita esculhambação porque estava era agourando os vivos, não sabendo ela que a dita cuja era a "agourada". Já ao escurecer e com medo de ficar com o caixão de defunto em casa, Zé Preto voltou com o caixão na cabeça.Encontrou o vereador sentado á calçada, palitando os dentes. Devolveu o invólucro, dizendo:
- Vereador, muito obrigado. Num precisa mais não. A mãe melhorou.