Eleitor Azarado
José Nonato de Sousa Silva, o Zé Nanô, era do tipo que nunca levava sorte na vida.Jogava na loto, no bicho, na esportiva, no bingo do boteco mas passava lotado. Apelou para a política e se filiou ao PFL.Foi ser cabo eleitoral de um candidato a depuiado. O partido perdeu o governo mas o deputado ganhou o mandato.Foi eleito mas desconheceu o cabo eleitoral. Mudou de partido, na outra eleição.Desta vez, o seu governador foi eleito. Deu gratificação a todo mundo mas na hora do Zé Nanô, não deu certo. Cansou de ir atrás.Rasgou o título e disse que não iria voltar mais em filho de uma égua nenhum. Político com ele agora era na pedrada. Vida que passa, chegam as eleições e o nosso herói vem chegando do trabalho, entra no boteco para tomar uma birita e chegar em casa tomar um banho para refrescar, ver a novela das seis. Á uma distância de uma quadra, vê um movimento inusitado.Carros, muita gente subindo em postes, pregando bandeiras. Ele pergunta o que é que vai ser aquilo . Informam que é um show-mício, um comício com conjunto. Não quís nem saber qual era o partido.Pensou consigo que chegava a hora de se vingar dos políticos.Sentou no banquinho da quitanda e pediu mais uma lapada.Pediu um tira-gosto.Tomou a terceira e foi para casa que era perto da esquina onde estava armado o palanque. Ninguém. A mãe devia ter ido para a igreja. Ligou a televisão. A mãe não vinha. Já estavam testando os microfones.O conjunto iria tocar a primeira lambada. Zé Nanô se preparou. Quando anunciaram o primeiro orador, ele saiu de casa, deu de garra de uma banda de tijolo e do fundo do quintal fez o arremesso no rumo do palanque. Só ouviu o borborinho, a zuada do povo. Correu para casa, abriu a porta da cozinha e se deitou. Apagou até a televisão. Batidas na porta.Aumentando.- Zé, Zé, abre a porta, rapaz !Ligeiro !
Esfregando os olhos, abriu um banda da porta e perguntou o que era.
- Rapaz, um doido jogou uma banda de tijolo no meio do comício e foi bater justo na tua mão.Lascou a cabeça da veia, corre lá !Vai acudir tua mãe !