Desde que decidiu que seria prefeito daquela cidade iniciou, silenciosamente, sua campanha eleitoral. Durante dois anos se desmanchou em favores: levava em seu carro mulher em trabalho de parto, idosos com crise de asma ou reumatismo, criança de perna quebrada, sarampo ou catapora.
Fazia questão de participar de todos os eventos da cidade, desde as peladas que os times de várzea promoviam até a festa da padroeira e mais os funerais, os batizados, os casamentos. E sempre que a ocasião exigia ( ou não), fazia uso da palavra e concluía com uma frase de efeito: “Estou aqui para servir “o povo” da minha terra!”
Perto das eleições, passou a visitar com mais frequencia seu pretenso eleitorado e lembrar-lhes dos favores que prestara. Achava que aquele “curral eleitoral” estava no papo, mas eis que chega a seus ouvidos notícia da indignação das pessoas com sua atitude, sua cobrança descarada.
"-Essa não!" diziam."Passar na cara que fez o favor e ainda cobrar por eles, é demais!"
E num desses eventos que tanto participava, desabafou indignado: ”- Estou aqui para servir “o povo” da minha terra, mas detesto ingratidão! Ajudei a muita gente sim e se esse povo não votar em mim, se não ganhar essa eleição não vou mais ter cara para morar aqui, nessa terra de gente sem consideração.
Um gaiato gritou do meio do povo: - E vai pra onde, homi?”
-Vou "imbora" do Brasil... vou morar em... em... em SERGIPE!
A risadaria foi geral e a filha, estudante universitária, chamou sua atenção, envergonhada: "-Pai, pelo amor de Deus, Sergipe é no Brasil!"
- Pois eu vou morar em Aracaju!