Não sou dessas consumistas intrépidas que saem dos shoppings com um ar vitorioso no rosto e as mãos cheias de sacolas.
Na  verdade , só compro o que necessito e quase sempre ,com preguiça e um certo temor de usar cartões de crédito,essa bomba nuclear de bolso que o capitalismo inventou para tirar o sono e o sossego de seus possuidores.
Inventar necessidades  ,essa é a essência do consumo.E,as pessoas se deixam levar por ela e acabam sem dinheiro,sem crédito e sem o diabinho de plástico enfeitando as carteiras.
Odeio experimentar roupas; acho aquelas cabines um horror e seus inúmeros espelhos sempre me deixam mais gorda o que inibe o meu desejo de compras. A luz fria,quase cadavérica me deixa feia e inibida. O pânico daquelas cortinas se abrirem e me deixarem em trajes menores diante de todo o mundo  ,me deixa ainda mais nervosa.Dai,saio correndo daquela caverna de Ali Babá.
Odeio aquelas vendedoras melífluas, dolorosamente falsas,que tentam me fazer comprar o que não me assenta,empurrando goela abaixo suas nada sábias idéias sobre moda.
Também , a moda não está nenhuma maravilha. Os costureiros parecem ter raiva das mulheres ,as legítimas,aquelas que brotaram assim da Natureza e querem nos travestir de travestis.
Vejo verdadeiras catástrofes passeando nos corredores dos shoppings e mulheres que as exibem com satisfação de quem veste um Dior.
Saias curtíssimas e justíssimas ,blusas enormes,mangas que lembram morcegos,cores dolorosas e misturas  ,deprimentes.Babados exagerados ,usados por mulheres de seios amplos,garotas   adiposas levando blusas muito justas e curtas,a barriga,sobressaindo desavergonhadamente.E lá vão elas ,achando que estão por cima da carne seca!
Os balonês,então;me pergunto se ,alguma mulher fica bem dentro daquela coisa.Parecem repolhos nas gôndolas.
Para não andar pelada e com a polícia na minha cola ,escolho alguma peça (sempre que combine com as que já tenho),embrulho, pago e corro prá casa.Lá,experimento e o meu espelho,espelho meu ,sempre me sussurra que não existe ninguém mais bela  do que eu.
Não acredito, mas ,não desgosto de ouvir.
Outra coisa que não entendo bem é o fetiche por bolsas e sapatos. Imelda Marcos tinha  milhares , mas,era o erário das Filipinas que pagava.
Ela só tinha dois pés como toda a gente e – duvido –que tenha calçado todos que comprou.
Não aposto muito na bolsa; tenho uma preta,uma marrom e uma branca.Não muito grandes nem muito pequenas.Tem que caber agenda,uma pequena nécessaire,carteira,bolsinha de moedas,canetas,cantinho para celular ,(que invariavelmente perco dentro dela ,enquanto ele toca desesperadamente, justo quando  desço a escada rolante e fico sem saber se me seguro ou se o procuro ,enquanto todos me olham.)Um lugarzinho para o chaveiro é fundamental;e tem que ser achado facilmente.
Sapatos, eu os quero bonitos,diferentes.Detesto tênis.Sapatos ortopédicos – me poupe – nem quando tiver noventa anos.
Altos  demais, nem pensar;só num teatro ou casamento.
Rasteirinhas ,adoro,para desespero do meu neto que sempre quer me ver de salto sete.
Agora  , meias são minha paixão;longas,rendadas,negras,sensuais,fazem toda a diferença.
No Rio ,eu as comprava na Jogê,nem sei se ainda existe!
Roupas ,gosto do clássico, mas ,não descarto os indianos, tão confortáveis.Adoooro as roupas de rendas e filés, do Nordeste.
E,decotes.Não tipo pin – up,principalmente,na minha idade.
Dia de ir às compras , não existe;sei  do que  necessito comprar e,se nas minhas andanças,encontro o que quero, compro.
Detesto liquidações ,onde só o freguês sai liquidado.Quando me dizem:
-Esta saia custava $100 agora está por $60, imediatamente eu retruco:
-E o senhor não tem medo da polícia!? Se pode vender por esse preço agora , porque não antes?
Antes que xinguem minha mãe ,saio  apressada da loja.
 
 
 
Miriam de Sales Oliveira
Enviado por Miriam de Sales Oliveira em 10/05/2010
Código do texto: T2247992
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