MÊDO DO MAR, EU? 
 
 
Isto não é conto e nem piada. É verídico e aconteceu comigo, acreditem.
 
Praia do Cumbuco, aproximadamente a 40 km de Fortaleza, meados do ano de 1990. Um dia  lindo, ensolarado, praia lotada, tudo era perfeito. As jangadas iam e vinham transportando turistas curiosos e barulhentos. Ah, ia me esquecendo de dizer que eu era parte de um grupo de cinqüenta pessoas, que saiu numa excursão de férias, pelo maravilhoso litoral nordestino, partindo de Goiânia em um ônibus fretado (de avião era muito caro rsrsrsrs), com destino a Porto Seguro, onde iniciaríamos nosso passeio, numa jornada que duraria vinte dias, durante os quais passaríamos também por Maceió, Fortaleza, Natal e finalmente regressaríamos a Goiânia. Portanto já havíamos passado por  Porto Seguro, Maceió e estávamos agora em Fortaleza, terra de gente hospitaleira e lindas praias.
Tudo corria às mil maravilhas, sem nenhum contratempo ou incidente.
Mas voltemos à Praia do Cumbuco, por onde iniciei minha narrativa.
Apesar de não ser marinheira de primeira viagem e já estar um pouco familiarizada com ele, sempre tive e continuo tendo muito medo do mar. Além de não saber nadar, acho suas águas um tanto misteriosas, apesar de toda aquela beleza. Portanto não aceitei o convite de alguns dos meus parceiros de viagem para um passeio de jangada. Também achei aquela embarcação muito frágil, aparentando ser muito leve. Mais tarde vi que de leve ela não tem nada.
Mas preferi ficar por ali mesmo. Escolhi um lugar onde haviam muitas crianças brincando, pois, obviamente era o mais seguro. O mar estava calmo, mas vez por outra, uma rajada de vento soprava mais forte, elevando algumas ondas mas nada preocupante.
Eu estava mergulhada até um pouco acima da cintura e, como sou baixinha,  já era o suficiente para perder o equilíbrio facilmente. Mas resolvi aproveitar mais um pouco e ali fiquei, de costas para o mar, observando o movimento das pessoas na praia.
As crianças que ali estavam haviam se afastado e eu acabei ficando sozinha. Num dado momento ouvi uma voz, que parecia distante, por causa do barulho do mar, que dizia: “Moça, olha a jangada!”. Mas que jangada? Onde? Quando tentei me virar de frente pro mar, antes que eu concluísse o giro, senti uma forte pancada no peito. Era a tal jangada que, descontrolada, havia tomado o rumo errado e seguiu em direção ao local dos banhistas. Fui saber depois que seriam necessários quatro ou cinco homens para dominar a embarcação naquela circunstância e no momento só haviam dois a bordo.
Fui arremessada de um lado para o outro, presa debaixo da jangada que, com o movimento das ondas me espremiam e me retorciam na areia. Populares que se encontravam próximos, acorreram apressados e auxiliaram no trabalho de afastar a dita cuja e me resgatar lá de baixo, já me afogando, com uma fratura no tornozelo, inúmeras distensões e contusões por todo o corpo.
Por sorte, tive a cabeça preservada, senão acho que não estaria aqui contando essa história.
Mas agora vem a parte hilária da coisa. Como eu não eu conseguia ficar de pé e muito menos andar e o meu grupo estava a uns cem metros dali, o jeito foi me carregar nos braços, o que os pescadores até tentaram fazer. Mas correr carregando aproximadamente sessenta quilos na areia  não é fácil, mesmo revesando entre os dois. Então tiveram uma idéia genial: colocaram-me em cima de um jegue, daqueles que ficam por ali, na praia,  pra divertir os banhistas.
Feito isso, seguimos em frente.
Porém com o balanço do caminhar do bicho, as dores que eu sentia aumentavam, então implorei que me tirassem dali. Como já estávamos próximos, conseguiram acabar de chegar comigo nos braços, me colocaram deitada na mesa de praia, enquanto meus amigos riam pensando que era uma brincadeira. Diga-se de passagem, eu era a moleca da turma. Mas como eu chorava de dor começaram a levar a sério e ouviram as explicações dos jangadeiros.
Pronto, acabou-se a graça e o passeio daquele dia. O coordenador do grupo reuniu a todos e de ônibus, o nosso mesmo que estava próximo, me levaram ao pronto socorro de um hospital público, na época INAMPS, onde felizmente fui muito bem atendida. Aliás, nota 1000 para todos os profissionais que me atenderam: super atenciosos. Deviam servir de exemplo para alguns...
Bem, resultado: quatro dias de cama, com o corpo coberto de hematomas e uma perna gessada, me entupindo de antiinflamatórios e analgésicos.
Algumas pessoas até me sugeriram tomar um avião e regressar a Goiânia. Mas quem disse que eu queria voltar. “Volto nada! Vou é terminar meu passeio” , eu disse.
Tudo bem, no dia de retomar a viagem eu já estava melhor e seguimos em frente.
Próxima parada? Natal! Mais praias lindas como Genipabu, com suas dunas incríveis, as quais percorri num bugue, com perna gessada e tudo, enquanto alguns transeuntes gritavam: “Quer quebrar a outra?”
Nada não, numa curva em declive, escapei do veículo e saí rolando duna a baixo, indo parar a uns cinquenta metros, parecendo um bife a milanesa. Felizmente a areia  é macia e não me machuquei.
E assim chegamos ao fim do nosso passeio.
No dia previsto, empreendemos viagem de regresso à nossa cidade. E o que não faltou foi assunto durante a viagem, pois o ocorrido tinha virado piada.
Mas tudo bem, no fim tudo não passou de uma grande aventura...
Chegando em casa, reencontrei meus familiares que ficaram surpresos, pois eu não havia comunicado o fato e mal acreditaram (alguns não acreditam até hoje rsrsrsrs) na minha história.
Se por acaso alguém que faz parte do RL, mora em Fortaleza e/ou estava lá nesse dia, possivelmente irá se lembrar do ocorrido.
 
Esta é minha história por hoje.
 
Uma boa noite a todos.   

P.S. A foto que ilustra o textoé de uma jangada lá de Cumbuco.
Ailama Asor
Enviado por Ailama Asor em 03/05/2010
Reeditado em 03/05/2010
Código do texto: T2233700
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