É VOCÊ QUEM CARREGA O PIANO?
Segura o piaaaaaano!
Ali eu trabalhava não há muito tempo, mas o suficiente para já perceber algumas dinâmicas interpessoais interessantes que aos poucos sempre se esboçam nos ambientes de trabalho, e que com o tempo ficam ainda mais claras aos nossos, muitas vezes, distraídos, lerdos e ingênuos olhos.
Todos sabemos que não é nada fácil o dia a dia de trabalho nas empresas, sejam elas grandes ou pequenas corporações.
Há que se "pisar em ovos" para se manter um clima organizacional saudável entre as pessoas que "tocam" os serviços.
E esse "pisar em ovos" é uma expressão tão "lato senso", que esbarra em questões amplamente pessoais, como aptidão ao que se faz, ética, vontade e compromisso.
Qualidades simples, no entanto nem sempre tão fáceis de se encontrar...e nem falo numa só pessoa.
E obviamente numa empresa, se todos fizermos um pouco que seja da "nossa" parte o todo fica mais leve...harmônico e melhor feito.
Bem ,até agora tudo teoria!, e era assim que aos poucos, eu viva a contrastante e angustiante "prática" que ali, eu percebia nitidamente concordar com a tal teoria dos bem poucos que "carregavam o piano".
Aliás, "os poucos" que cada vez se tornavam mais escassos.
Minhas costas começavam -resignadamente- a doer...
"Será que estaria eu sendo injusta?"- eu pensava com os botões da minha consciência..
E foi nesse contexto que, certa vez, eu me encontrava naquela sala por acaso, aonde entrei a procura de alguns formulários que faltavam na minha mesa, que "o" alguém responsável lá já deveria tê-los colocado, e que eram imprescindíveis para que eu realizasse o meu trabalho.
"Trim, trim, triiiimmm!"
O telefone começou a tocar insistentemente sem que ninguém o atendesse.
Bem , já que eu estava ali mesmo, embora de passagem, entendi que nada me custava atender àquele chamado. Aliás, já aprendi que esse "nada me custava" é um erro de pensamento que jamais devemos cometer na vida!
"Alô, bom dia, pois não?", perguntei eu num tom bem coloquial.
"Alô, ô meu, dá pra chamar a minha mãe?" me respondeu uma voz aflita, lá do outro lado.
Bem, perguntei quem era a mãe dele na óbvia esperança de que aquele filho aflito me falasse o nome dela.
Porém, olhem só o que ouvi:
"Ah, a minha mãe? É aquela que trabalha na...ah, meu, é aquela que não faz nada, cê conhece?"
Confesso que fiquei perdida. Nunca precisei tanto saber o nome de alguém...para pode identificá-lo.
Como seria difícil encontrar aquela mãe por ali...
Desde aquele dia, depois de tão brilhante filho observador, nunca mais tive dor de consciência. Já quanto às dores nas costas...
Não sei, mas parece que o tal piano está cada vez mais pesado.