Numa cidadezinha do interior da Paraíba, lá pras bandas de onde o diabo perdera as botas, a agricultura era a atividade principal, o algodão em especial, pois até uma usina de beneficiamento estava implantada a todo vapor. Mas, como é natural, existia um comércio insipiente, do qual o ponto mais visitado era o bar do Manduca, em face das novas mesas de sinuca que colocara à disposição dos fregueses.

            A rapaziada adorava praticar o jogo das oito bolas, e além do mais a quantidade de mesas dessa modalidade era maior, umas cinco pelo menos, enquanto a de bilhar, de três bolas, só uma mesinha mixuruca, pois esse jogo era mais praticado pelo povo da velha guarda.

            Dentre os jogadores especiais, um havia que era verdadeiro campeão (Nenê das Tabocas) na arte de encaçapar as oito bolas (duas vermelhas, uma amarela, uma verde, marrom, azul, roseada e preta, esta valendo sete pontos). Também, o cara só vivia no estabelecimento deste a abertura ao fechamento, vezes havia que nem ia pra casa almoçar! De quando em vez dava a saída e ia metendo uma a uma, e o jogo acabava, deixando o adversário com o pau na mão, o taco quero dizer.

            Certo dia lá aparecera um esplêndido praticante da sinuca, tal Boca de Caçapa, que vivia a percorrer cidades pelo Brasil afora, porquanto era a única coisa que sabia fazer, e seu sustento era garantido. Dificilmente perdia uma parada, salvo quando estava tapeando seus adversários numa apostinha qualquer, barata, a fim de pegá-lo em seguida.

            Pois bem, adentrou o bar e foi logo se dirigindo ao local das sinucas. Primeiramente, convidou um rapaz pra jogar, mas apostando pouca coisa, e por cortesia deixara-o ganhar as partidas, perdendo algum dinheiro, no que os espectadores vibraram. Nem sequer utilizara seu taco especial que carregava na bagagem pra todos os lugares.

            Dentro de pouco tempo, maluco pra jogar, aparece o bamba da cidade. Vendo aquele cidadão no ambiente pela primeira vez na vida o convidou, sem receio, para bater uma sinuquinha apostando pequenas quantias, no começo, valor que iria esquentando de acordo com os resultados. Sujeito precavido, claro, o cara era desconhecido naquelas bandas.

            Recebido e aceito o convite, a plateia ficara com pena do visitante, por isso que o haviam visto jogar muito mal. Seriam favas contadas e certamente o bambão local iria deixá-lo completamente pelado, de tanga, sem dinheiro até para retornar as suas plagas.

            O danado do sujeito foi botando as mangas de fora devagarinho, agora com a sua vara preferida, perdia uma partida, ganhava duas, três, de propósito. Com essa tática, própria de profissionais, conseguiu deixar seu adversário na lona, completamente liso, sem um tostão sequer. – Quer continuar, perguntara o profissional ao Nenê das Tabocas? – É que você levou toda a minha grana, estou sem condições...

            Depois de um rápido silêncio, o rapaz chamou o sujeito a um reservado e propusera uma aposta diferente: “Quem perdesse teria de mamar o instrumento do outro”. Boca de Caçapa não era de recusar desafio algum, confiava no seu taco, que lustrava e corria solto, principalmente quando colocava talco para melhor manuseio.

            No final da tarde, Nenê contando essa passagem a seus amigos, deles despertara o interesse de saber o final do jogo, quem teria ganhado a aposta. E ele, com aquela repugnância, cuspindo a toda hora sem parar, dissera: -- Vai jogar bem assim na porra! Meter bola assim na casa do cacete, filho da puta...

 Domínio público.

Em revisão.

Qualquer semelhança é mera coincidência.

ansilgus
Enviado por ansilgus em 29/04/2010
Reeditado em 30/04/2010
Código do texto: T2227376
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