" ÊTA PIMENTA BÔA!!!!!!!

Reza a lenda que alguns anos atrás Araguari contava com uma das noites mais agitadas alegres e divertidas do interior mineiro.

Naquela época já diziam que a noite era uma criança, no qual eu retrucava dizendo, que ela era apenas um embrião crescendo nas emoções do cidadão Araguarino.

Éramos jovens intrépidos na flor da mocidade e vivíamos a cata de emoções pelos botecos da vida daquela cidade citada.

Entre um porre e outro ,havia no meio do caminho um bar chamado na época, Bar do Cabrito. Bar este onde a juventude se reunia nos finais das noites, após saírem das namoradas, finais de bailes, festinhas, boates, Principalmente os bailes no nosso saudoso, Clube Recreativo Araguarino. Enfim ,quando tudo se acabava nas nossas madrugas, no bar do Cabrito tudo se iniciava. La estava a verdadeira gastronomia do PF mineiro, ou seja, o famoso prato feito.

Me lembro ainda como se hoje o fora, até sentindo o cheiro e o sabor daquele prato do arroz soltinho, regado um molho de tomate que só Cabrito sabia fazer. Acompanhado ao prato, um bife que ocupava quase a totalidade do prato. Por cima deste bife, vinha o principal. O nosso famoso queijo mineiro derretido na chapa pelos dois lados, com aquela casquinha crocante. Somente mineiro Araguarino conhece e sabe o quão dava água na boca, como vocês Araguarinos que residem ainda na cidade ou que moram fora e que estão lendo esta texto agora. Acopanha ainda, antes que me esqueça, dois ovos grelhados acompanhados de rodelas de tomates à gosto.

Em uma daquelas noites inebriantes, estavam eu, amigos e Paulo, o exímio professor de violão, protagonizante desta história que voz escrevo.

Paulo nos dava além do Show naquele momento com seu monumental violão, aulas como executar um instrumento de cordas e pra outros tantos metidos à Dilermando Reis da vida. Paulo nos brindava com seu conserto dedilhando o seu violão com total e explícita desenvoltura. O homem em questão, era uma fera no manejo de seu instrumental de trabalho. Estávamos todos embriagados e inebriados pelos sons melodiosos de seu violão e de seu vasto repertorio e conhecedor dos clássicos e eruditas.

Entre um acorde e outro, reza a lenda e um sustenido ou um bemol, Paulo para no meio da musica e pergunta ao proprietário do bar, Sr. Cabrito se o mesmo não teria uma pimenta boa! Paulo, antes que eu me esqueça, era um emérito e exímio comedor juramentado de pimentas. O Sr. Cabrito por sua vez lhe responde que havia uma bem guardada há tempos e no caso não saberia lhe dizer de como estaria a mesma uma vez que a própria estava toda mofada pelos reveses do tempo.

No que Paulo retrucou:

-Cabrito, é desta mesmo que eu quero experimentar!

Feito e dito isto, Cabrito de posse da garrafa passou-lhe às mãos e uma toalha molhada para tirar o mofo do tempo lhe causara. Feito e consumido o ato, Sr.Paulo abre a dita cuja garrafa a qual saiu do seu interior, uma nuvenzinha de fumaça de um aroma inqualificável e a coloca sobre a mesa. Nossas bocas tornaram-se úmidas à este fato.

Sr.João, para dar uma esnobada em sua competência gastronômica pimental e conhecedor comprobatório das suas qualidades, da uma olhada para um lado e para o outro e pede bem alto e em bom tom:

-Cabrito, me da um prato e uma colher me fazendo o favor!

No que de pronto é atendido .

Paulo, do alto de sua prepotência jorra uma enorme quantidade de pimenta sobre o prato e de posse de uma colher nos olha garbosamente, enche-a de pimenta ate as bordas e mete-as garganta abaixo. Após o feito, da um arranhar de garganta disfarçante, mas, não consegui disfarçar as suas bochechas ruborizadas estampada em seu rosto que mais parecia um pimentão.

Parecendo tudo voltar a normalidade, Paulo de posse de seu violão começa novamente o seu dedilhar por entre as cordas melodiosas quando de repente para e indaga ao Sr.Cabrito, agora puxando todo o ar existente no recinto, onde teria arranjado tamanha pimenta boa.

-Cabrito, uauuuuuuu onde foi que você...ufaaaaaaa arrumou esta pimenta meu filho?! Mas que... ufaaaaa boa sô! Igual a esta uauuuuu ainda não havia comido...uuuuffffff

Passado o primeiro instante, Paulo tenta mais uma vez dar continuidade ao seu concerto, no qual mais uma vez interrompe indagando o sr.Cabrito:

-Cabrito uuufffff...que pimenta danada uuuufffff...vê se me manda uma Coca-Cola bem geladinha nossaaaaaaa...

Paulo, de um gole só ,sorve toda a Coca-Cola e logo em seguida tomou mais outra e mais outra e mais outra.

Nós, por nossa vez, tentávamos disfarçar o ocorrido sendo que Paulo era um homem muito sério e poderia ficar desconsertado já que não existia mais limites para o seu desnorteamento.

Paulo, em seu cantinho,agora sem o seu instrumento de trabalho,resmungava com seus próprios botões:

-Uuufffff... que pimenta desgraçada, uuufffff

-Parece que foi plantada pelo diabo sô!

La pelas tantas João voltou a chamar o Cabrito pedindo que lhe trouxesse um litro de leite bem gelado, no qual feito isto, o próprio mandou goela abaixo no intuito de aplacar a chama do inferno que no momento invadia lhe a alma.

Paulo já meio sem graça:

-Vocês me desculpem uuuffff...eu tenho que chegar em casa!

No que ele levantou Cabrito lá do fundo gritou:

-Sr. Paulo, não quer levar o resto da pimenta?!

- Não Cabrito, uuuffff...esta é muito boa,mas, não quero não uuuuffffff... muito obrigado e boa noite pra todos

Reza a lenda que Paulo se mandou e só fomos ter noticias do renomado comedor de pimentas após alguns dias através de um amigo em comum ,em que o dito cujo, Sr. Paulo havia procurado a conceituada farmácia do Sr. não menos renomado, Paulo Nogueira Cruvinel, que lhe fez o tratamento no seu estrago bucal e nas adjacências.

Já dizia a máxima que por onde se entra alguma coisa, uma hora tem que se sair. Alias ,este mesmo amigo nos dizia que ele não estava também podendo sentar.

A partir destes meados de tempo, não vimos mais o Sr.Paulo. Mediante a isto, me mudei para Goiânia e não tive o prazer de vê-lo ate a presente data.

Hoje este texto, é um tributo que presto ao nosso querido mestre clássico do violão, que imagino eu, esteja dando seus concertos pelos prados celestiais.