O esqueleto do Dilu
O Dilu tava encasquetado da maneira como os ossos eram designados.
- Occipital? – resmungou entre uma e outra golada de cerva. – Isso lá é nome de se por num osso da cabeça? – e complementando:- Pusessem testal, cerebral, milingual já que tem de terminar em al. Agora, occipital? Fala sério!
A turma não estava entendendo onde queria chegar.
- E perôneo então! Parece até nome de dupla sertaneja. Agora com voces Perôneo e Petrôneo.
Porque tanta indignação ninguém entendia. Só sabiam que tudo começara quando o Dilu tivera de tirar uma radiografia da costela. Suspeita de fratura e culpa de um tombo motoqueiral. Enquanto aguardava a vez de entrar na sala propriamente dita – e como demora esperar a vez pelo Sus!- ficou espiando um cartaz do esqueleto humano pendurado na parede. E lendo os nomes dos ossos. Um por um.
- Alguns nomes até tem razão de ser!
- Tem?
- Hum hum! Cócix, por exemplo – e explicou na sua lógica particular – é aquele ossinho que fica bem no topo da bunda. Se bem que se tivessem dado o nome de cúcix ficava bem mais apropriado. Ces não acham?
Fazia sentido.
- E bem pertin fica o sacro! Esse tá certo! Quer coisa mais sagrada que o rabo da gente?
Nova golada.
- Rádio, por exemplo.
- Como?
Pigarreou antes de continuar:
- Isso mermo! Rádio é nome de um osso. – completou. – Mas fica no braço! Fôsse na cabeça vá lá! As orelhas iam servir pra sintonizar as estações. Direita FM. Esquerda AM. O nariz regulava o volume. Ces tão vendo? Nome certo. Lugar errado.
A turma já estava em dúvida se ele se especializara em ossos ou tinha bebido demais.
E ia ficando cada vez mais entusiasmado:
- Sabiam que tem um que se chama talus no pé da gente?Tálus! Isso é nome de osso do pênis, puxa vida!
Ainda tentaram argumentar que o pênis era só nervos mas falou que ele ouviu, né? Em contrapartida tascou-lhes calcâneos, cuboides, capitatos, trapezoides, ulnas e metatarsais de lambuja! O homem tava uma autêntica enciclopédia ossóide!
A turma ouvindo, ouvindo, ouvindo e só se renderam àquela verborragia quando o Dilu, do alto de sua sabedora recem adquirida, deu sua estocada definitiva:
- Sabe gentarada! Eu posso até concordar com essa nomarada esquisita ou fora de lugar!
- Pode?
- Mas afirmar que meu maior osso se chama fêmur, aí não dá! – e dando a golada derradeira no copo: - Posso garantir que o meu é machor até debaixo dágua!
E pediu uma nova cerva pro botequeiro.