Gafes e mais gafes
Primeira vez fora dos limites do meu continente , horas a fio de voo sobre o imenso mar.
Pude mesmo divagar sobre as grandes navegações, estava eu também de certo modo fazendo a mesma coisa.
Ao meu lado numa fileira de quatro cadeiras seguiam duas senhoras que logo me olharam com afetuoso sorriso, elas estavam voltando para casa na Itália em virtude de um acidente com uma delas, soube pouco depois de sentar.
Uma era napolitana e logo compreendi a animação nos gestos, a outra mais recatada e dolorida pelo acidente era Sarda, mas igualmente simpática.Entabulamos uma conversa sem muito entendimento, mas recheada de muito boa vontade das nossas partes.
A princípio fiquei tensa , pois não sabia como me fazer entender, aos poucos porém fui relaxando e por incrível que pareça a comunicação se fez limpa , clara e sem ruídos.
A napolitana demonstrou especial apreço pelo meu rosto, esbofeteava constantemente com exclamações que logo compreendi , a despeito do gesto um pouco irritante, era um elogio a minha pessoa.
A viagem transcorria de modo maravilhoso, dormi um pouco espremida entre as duas senhoras e um holandês imenso ao meu lado que mal cabia na poltrona de tão grande.
Amanheceu o dia e em minutos serviriam o café da manhã, desjejum,pequeno almoço ou para homenagear minhas companheiras de viagem a prima colazzione.
Nunca imaginei, que meu café viria com a primeira gafe, ao longe vislumbrei o comissário com uma bandeja e nela algo de cor branca fumegante. A “iguaria” era oferecida e bem aceita por todos.
Senti meu desespero crescer e já ia comentar com minha companheira da frente, quando ela me perguntou:
- O que será isso que estão servindo?
- Não sei, disse eu, e disparei a pérola:
-Deve ser pra chupar.
Por milagre, nossos companheiros não falavam nosso idioma isso nos salvou de maiores constrangimentos.Então, por um passe de mágica o comissário ofereceu a “iguaria” ao meu vizinho de poltrona, que pegou a coisa e passou no rosto, numa espécie de faxina matinal.
Não pudemos completar nossos comentários e caímos na gargalhada, recebida pelos nossos vizinhos com certo espanto, mas desconfio que a fleuma européia os tenha impedido de rir de nossa cara.