HUMOR – No trem II
Cabecinha viajava no trem do horário rumo à cidade onde residia sua ex-mulher, separados que eram em face de um casamento infeliz, porquanto na sentença do desquite (ainda não havia o divórcio), ficara determinado que teria de apresentar seu filho àquela que o pariu, isso de quinze em quinze dias.
No seu colo viajava a criança, esperta, perguntadora, curiosa, como, aliás, são todos os meninos sadios... E ele, com aquela calma que Deus lhe dera, respondia a tudo com um sorriso largo de satisfação.
-- Papai, que animal é aquele ali comendo grama? – Uma vaquinha, meu filho. -- E aquela casa grande lá ao longe? – A residência do senhor de engenho, homem rico e poderoso destas plagas. – Mas esse mundo d’água com tantos bois tomando banho? – É um grande açude, e os búfalos adoram água abundante.
Na próxima estação houve um entra e sai de passageiros, pois nesse tempo o movimento da Rede Ferroviária do Nordeste em dia de domingo era enorme, ainda se dava valor aos trilhos ao invés das estradas de rodagens, pois até mais seguro e mais barata a viagem ferroviária.
Eis que uma fogosa mulher subira com aquele seu vestido tomara que caia, seios lindos à mostra, ficando frente e frente com o irrequieto Cabecinha, e quando ela cruzara suas pernas torneadas deliciara-se o rapaz com o espetáculo; agitava-se, não se continha, os olhares dos passageiros tinham um só alvo: A cena maravilhosa... Houve gente que até se esquecera de descer na sua escala...
O garoto, sensível que era, começou a sentir algo o pressionando de baixo pra cima, desequilibrando-o. Daí a pergunta: -- Papai, por que é que estou subindo?
A risadaria tomou conta do vagão, até mesmo porque havia outros caras agitados pra caramba. O Cabecinha ficara encabulado...
Qualquer semelhança é mera coincidência.