Bares temáticos (com Vany Grizante)*

* se ler, não dirija

Cansado de ir sempre a bares comuns, todos parecidos uns com os outros?

Procura por mais especificidade pra sua balada na night?

Quer um bar que combine com o seu estilo personalíssimo?

Nós temos a solução!

Oferecemos um amplo cardápio de sugestões bem... sugestivas.

Escolha a de sua preferência... e boa balada!

"Lei Seca"

O bar só fecha quando todas as garrafas e latas estiverem sequinhas da silva xavier. Abre novamente assim que o estoque for renovado e a ressaca do dono for curada. A decoração é toda feita com cartazes e partes de out-doors de campanhas do tipo "se beber, não dirija"; assim o cara evita dirigir porque está bebum e continua por lá tomando todas. A música ambiente é composta por toda e qualquer canção que se refira a bebidas e a beberrões. Proibidas as músicas que se refiram a carros ou a velocidade.

"Cornell"

A porta tem altura maior que a normal, para que os frequentadores possam passar sem que seus chifres enrosquem na parte superior. Dentro, tem pé direito duplo, ou seja, a altura do piso ao teto é o dobro da usual. A trilha sonora é invariavelmente de duplas sertanejas e, nas mesas, sempre há duas cadeiras, para que o traído possa se sentar acompanhado de um ouvinte para suas lamentações. Sobre cada mesa, ao invés de guardanapos, lenços de papel. Todos os garçons têm formação superior em Psicologia.

"Mamãe, eu quero mamar"

Nada de mesas, cadeiras, copos ou garrafas. O cliente escolhe um dos berços, decorados com móbiles feitos com latas de cervejas mundialmente famosas, espalhados pelo local penumbroso. E as garçonetes, vestidas de babá, servem (e renovam) apenas mamadeiras, cujo conteúdo fica a critério do freguês, desde que seja rigorosamente alcoólico. Há ainda a opção de se usar fraldões descartáveis, de modo que o mamão nem mesmo tenha que se levantar pra ir ao banheiro. A música ambiente é toda composta de canções de ninar e trilhas sonoras dos filmes da Disney.

"Seguro morreu de sede"

A decoração remete aos mais imundos dos bares pé-sujo que possam haver. Os copos são encardidos e lascados, as cadeiras são bambas e tortas, as mesas são grudentas e de cor indefinida, o piso é coberto de serragem misturada com terra, tampinhas, tocos de cigarro, cusparadas e outras escatologias nojentas. As paredes são recobertas por azulejos quebrados e muito sujos, com restos de cartazes colados e arrancados, caca de mosca, gordura rançosa, pichações variadas, seroto de nariz e um pouco de sangue seco. O dono do bar, que aparenta jamais ter tomado um banho na vida, usa sempre a mesma camiseta do vasco, toda furada e amassada, e que já está da mesma cor do pano ensebado com que ele "limpa" o balcão, enxuga os copos (sem lavar), seca o suor da testa e dos sovacos, e assoa o nariz. Não há garçons. Os pedidos devem ser feitos direto no balcão, com pagamento adiantado. O banheiro é tão repulsivo que ninguém mais usa. Até porque tem um bêbado profissional que mora lá dentro. A música ambiente é a tosse ranhenta acompanhada das cusparadas do dono e os palavrões trocados entre este e os fregueses; ah, e a narração do futebol no radinho de pilha, naturalmente. E de vez em quando uns tiros.

"Bombay"

É proibida a entrada de frequentadores vestindo camisas folgadas. As portas tem altura normal, mas são mais largas. Nos fundos do bar, um canil individualizado para os pit bulls aguardarem enquanto os seus donos enchem a cara. Bebidas, só diet e light, mas também há tigelas de açaí com granola, chopp com anabolizante e sucos naturais. A decoração é toda feita com equipamentos de ginástica, as paredes são recobertas por espelhos e, nas caixas de som, rola o maior bate-estaca.

"Saint Maurice"

Vallet service com vagas duplas, para caberem as picapes importadas dos frequentadores. As bebidas, todas também importadas, são cobradas a preços três vezes maiores que o normal, e só são servidas porções pequenas, com tamanho sempre inversamente proporcional ao preço. Nas noites de sexta, os frequentadores que preencherem um cupom concorrem a uma passagem para Miami. Três cupons preenchidos dão direito a uma tigela de açaí no Bombay.

"Absinto Muito"

Decorado com reproduções dos quadros de Van Grogue sobre as paredes de ângulos estranhos, tal como as angulosas mesas e cadeiras com fundo de palhinha. O piso é de madeira rústica e desigual. Só se serve bebidas cujo teor alcoólico seja superior a 80 graus GL. As mesas, manchadas de tinta a óleo de várias cores (assim como os copos), são equipadas com narguilés contendo haxixe, ópio e marijuana, mas o dono jura pra fiscalização que é apenas tabaco. Todos os garçons têm apenas uma orelha, atrás da qual fica o lápis com que anotam artisticamente os pedidos nos bloquinhos guardados no bolso em forma de girassol impressionista gigante, que enfeita os aventais. A música ambiente são os velhos can-cans entremeados de um pouco de Eric Satie, um toque de Kurt Weill, uma boa pitada de Gershwin e alguma coisa da Edith Piaf.

"Alcoologicamente Correto"

Os garçons, vestidos com camisetas do Palmeiras, do Guarani, do América de Minas ou do Juventude, servem (apenas em copos de vidro verde) bebidinhas como: cachaça feita de cana de açúcar orgânica, uísque envelhecido em tonéis de madeira certificada, ou Martini com gelo de água de re-uso; tudo sob o som tranquilo da música new age... Os petiscos são feitos apenas de grãos, os guardanapos são de papel reciclado, e procure jamais soltar gases no interior do recinto. Nada é proibido, mas, se você quiser fumar lá fora, pense no impacto da fumaça que você libera no ar - e dê sempre preferência aos fumos orgânicos: se preferir, a horta, nos fundos, possui alguns exemplares de Cannabis cultivados sem agrotóxicos. E, claro, não há estacionamento: apenas bicicletário.

"Marquês de Sede"

O bar é decorado como uma masmorra, com aparelhos de tortura no lugar das mesas, rodeados de cadeiras elétricas, paus-de-arara e correntes penduradas por todos os lados. A iluminação precária fica por conta das grandes velas toscas e das tochas. Garçons e garçonetes vestem os clássicos modelitos de couro preto com tachinhas e pregos, inclusive máscaras e saltos agulha (no caso delas) e portam chicotinhos na cintura. E tanto batem quanto apanham. A bebida é muito ruim e a comida pior ainda. No lugar da happy hour há a beat hour. A música ambiente é toda na linha da trilha sonora de Pulp Fiction e Kill Bill, entremeada por gritos e gemidos de dor e angústia profundas. Reserve com antecedência, porque o lugar lota nos finais de semana.

:)

Com tanta idéia legal, agora vai ser mais divertido encher a cara com muito estilo e variedade. E quem quiser investir em algum desses bares temáticos, procura a gente pra negociar a franquia, tá? Fazemos negócios com muita sobriedade, pode ter certeza!

Vany Grizante

e

Maria Iaci
Enviado por Maria Iaci em 09/04/2010
Reeditado em 12/04/2010
Código do texto: T2186451
Copyright © 2010. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.