No interior de nossos estados, e isso era corriqueiro, caçadores saíam às matas em busca de animais comestíveis para ajudar na alimentação caseira ou mesmo como tira-gosto nas horas de lazer. Eram pacas, tatus, aves como rolinhas, zabelês, patos e uma série interminável desses espécimes. Nos dias atuais os bichinhos estão sendo extintos aos montões. Mas também usam da pesca dos açudes fisgando traíras, tilápias, etc.
Ao mato caçar foi o senhor Mané Pé-de-Cabra, acompanhado de seu filho Joquinha. A jornada demorou e não foram felizes, daí retornaram a casa por volta das 17:00 horas. Quando já pertinho, eis que o guri notara uma goiabeira de razoável porte repleta de zabelês, chega pendia prum lado de tanto peso, talvez já se preparando para dormir.
-- Meu pai veja quanta zabelê a nossa frente, dissera o garoto. – Vai Joquinha da gota serena, carrega a espingarda que vamos lavar a égua. – Mas papai, assim o senhor vai conseguir matar no máximo umas quatro ou cinco, as outras arribarão. – Verdade, menino, tive uma ideia, vá a casa buscar aquele serrote novo e bem calibrado que comprei na loja do compadre semana passada, mas volte logo.
Quando o garoto se distanciara ele lembrou: -- Diga a sua mãe para fechar todas as janelas e deixar aberta somente aquela porta larga... a colheita vai ser de lascar...
Numa rápida digressão, a zabelê ou zambelê é uma ave brasileira que pode medir até 40 cm, que habita as matas de Minas Gerais, e nordeste do Brasil, inclusive na caatinga. Aqui em Pernambuco esses animais abundam, perdem somente para as rolinhas, que o povo do mato também adora.
Lá se vem o garoto, contente, maroto, assobiando. – Para com isso menino você quer assustar os pássaros, não aprendeu que esses animais vivem piando e é piar o que vamos fazer para que permaneçam onde estão; arre logo com o serrote cabra da peste, anda, não quero perder uma sequer!
– Meu pai, não me diga que vai fazer o que estou pensando, falara a criança. – Mas é justamente isso, vamos levar o pé de goiaba nas costas e colocá-lo dentro da casa e fazer a festa.
O Mané então começara a serrar a goiabeira, cujo tronco não era lá essas dificuldades, embora a madeira fosse bastante dura, o importante é que a ferramenta estava bem travada e afiada.
Foi o que fizeram... com muita calma, sem qualquer zoada diferente, apenas piando, levaram aquela parte aérea da árvore para casa, fecharam a porta com rapidez, de sorte que apenas uma zabelê fugira rumo à mata. Mané com aquela sua agilidade de caçador antigo pegou a espingarda de cano longo e mandou brasa na pobrezinha que queria sua liberdade.
Perito na arma, não deu outra, quando puxou o gatilho o danado do Joquinha atravessou na sua frente. – Quer morrer sei filho de uma égua, desgraçado, passa logo. Aí o Mané colocou a mão na boca do cano, que começou a inchar, engrossar. -- Vai sujeito de uma figa. Joquinha saiu desembestado. Ainda deu tempo de apontar e acertar bem no pescoço dela, dividindo-a em duas partes. Quando atingiu a presa, o lado da cabeça ainda cantou: zaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaa, enquanto a parte maior, que caira antes, completou... belêêêêêêêêêêêêêêêê...
Pronto, comida até demais, eita caçador da moléstia dos cachorros doidos, vai ser bom assim nos diabos que o carregue. Se não me falha a memória, a contagem deu 14 presas.
Em revisão.
Adaptado.